O Exorcista: O Devoto

O Exorcista: O Devoto

14 de outubro de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

O maior filme de terror já feito. Essa é a frase que melhor define O Exorcista de 1973, logo, existe o terror como gênero antes, e o terror após O Exorcista. O que nos leva a crer que, qualquer adaptação que se escore na obra clássica não teria uma tarefa tão fácil, e cinquenta anos depois cá estamos, com um filme que não apenas usa o clássico como base, como também se coloca como uma sequência direta, uma ideia tão audaciosa quanto interessante.

Em seu texto o diretor David Gordon Green se inspira, e muito, no conteúdo clássico, e podemos dizer que a base narrativa é a mesma, o embate de crenças ou a falta delas. E o diretor usa disso para que seu longa não se coloque no lugar de remake, e sim de uma sequência direta, com isso tais semelhanças se colocam mais como uma homenagem, ou uma alegoria, para tornar fácil na mente do espectador a ligação entre os longas.

Se antes o embate era religião contra ciência, em sua versão Gordon Green tenta ir um pouco além, tornando a temática um pouco mais complexa, colocando em confronto não apenas religião e ateísmo, como também a briga de egos entre as mais diversas crenças, mas sempre mantendo a base como fio condutor, pois tais ramificações na narrativa acabam não tendo o espaço ou tempo necessário, pois a trama precisa caminhar. 

Se antes o conflito partia apenas de Regan (Linda Blair), e se manifestava nos demais personagens, aqui o diretor divide o protagonismo entre as garotas para melhorar explorar, não apenas o embate, mas também visando algo mais complexo, que passa a ter sentido do decorrer da trama, mas que nem sempre funciona, restando apenas o básico, o abismo entre filhas e pais, o que acaba por tornar tudo ainda mais difícil em relação a solução do problema.

O primeiro ato como um todo é uma grande construção, seja do arco dramático das garotas, ou do mal que irá acompanha-las, em um ponto o diretor é feliz, no outro nem tanto, inclusive no início ele parece meio perdido em relação ao ritmo narrativo, alguns cortes abruptos interpondo sequências são mero capricho que visam o medo, porem que não causam nada além de confusão da mente do público. 

Com isso as sequencias que tinham o intuito de causar medo ou desconforto só funcionam parcialmente, logo, quando se volta para a base narrativa é quando o longa parece caminhar, cada busca por socorro expõe o principal enfrentamento, seja na recusa por uma prece desconhecida, ou na crença de que apenas a sua verdade é absoluta.  

Por outro lado, quando a direção se volta para o terror propriamente dito e quando o longa derrapa, a interpretação das garotas nos momentos mais acalorados, pendem um pouco para o exagero, e digo isso pois nas sequencias mais contidas a direção consegue gerar o mínimo de tensão, seja nos olhares macabros da meninas, ou nos sussurros para um personagem especifico, expondo que nem sempre o espetáculo é necessário.  

A vontade em explorar mais afundo os traumas que levaram o pai, Victor (Leslie Odom Jr.), até ali, pode dar a entender que a direção faz uma balanço desproporcional em relação ao arco dramático das garotas, porém isso ocorre de forma intencional, tendo em vista que o longa escolhe a quem dar seu protagonismo ainda na premissa, mas que no decorrer da trama pode cair no esquecimento devido a interação entre as famílias. 

Assim, o terceiro ato encerra seu arco de forma coesa, pois cada passo, criado pelo roteiro leva cada uma das famílias exatamente onde deveriam para dar sentido ao fim, enquanto família de Katherine (Olivia O’Neill), extremamente religiosa passa a duvidar e a perder a fé, o pai de Angela (Lidya Jewett), faz o caminho contrário, perdoando a filha pela morte da esposa e voltando a acreditar, o que resulta no ato final.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: O Exorcista: O Devoto

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️ / 6,0

Direção: David Gordon Green

Elenco: Ellen Burstyn, Leslie Odom Jr., Jennifer Nettles, Norbert Leo Butz, Lidya Jewett, Olivia O’Neill, Ann Dowd, E.J. Bonilla, Raphael Sbarge

Duração: 1h 51m

Roteiro: David Gordon Green, Peter Sattler

Fotografia: Michael Simmonds

Trilha sonora: David Wingo, Amman Abbasi

Ano: 2023