Boogeyman: Seu Medo é Real

Boogeyman: Seu Medo é Real

8 de outubro de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

Quase sempre, os medos dos adultos são reflexos de seus medos na infância, que por falta de compreensão ou entendimento por parte dos pais, acabam menosprezados e carregam esse medo por boa parte da infância. Seus gatilhos podem estar relacionados a inúmeras situações, um trauma, um susto, ou até mesmo um filme de terror indevido para sua idade, justamente por acarretar em tais circunstâncias.

Uma criança por si só já tem medo do escuro, e o que o longa usa como potencializador é ainda mais assustador, o luto. Uma criança que perde a mãe e se vê sozinha, indefesa, logo seus medos se tornam ainda maiores, e como seus responsáveis próximos se encontram em semelhante situação, a mesma não tem para quem recorrer, ao menos alguém que não esteja emocionalmente abalado.

A criatura aqui nada mais é que a idealização da dor da perda, e de suas circunstâncias reverberando em cada no seu devido tempo. O pai vivido pelo ator Chris Messina, por estar na fase de negação é o ultimo a ter contato com a criatura, a pequena, Sawyer (Vivien Lyra Blair), e mais vulnerável é a que mais sofre. Já a imrã mais velha Sadie (Sophie Thatcher), como sua função narrativa é exemplificar tudo ao publico é tomada aos poucos, justamente por estar entre o processo de aceitação.   

As crianças mais suscetíveis ao trauma, logo, são as mais vulneráveis. Dessa forma a direção usa da descrença do pai para avançar com a trama e o arco dramático da família, mantendo o pai ausente enquanto a filha, sozinha, encara seus demônios. Por ser a mais indefesa, Sawyer é mais atormentada, a perca da mãe, em paralelo, faz com que seu pai também se ausente e a mesma se veja sozinha, no escuro, literalmente.  

O que nos leva ao principal ponto positivo do longa, a forma como o diretor usa a escuridão, mantendo pequenos pontos de luz, porém a predominância é das sombras, fazendo com que qualquer canto seja um risco em potencial, reflexo do ótimo trabalho do suspense por parte da direção e fotografia, as sequencias com pouca luz são realmente assustadoras. 

Como o texto se limita ao trio de personagens a conveniência é um caminho muito provável, então, sem ter muito para onde ir o roteiro anda em círculos, em alguns momentos, especificamente nos momentos quando a trama se abstêm em conteúdo, mudando o foco da narrativa para a vida escolar, é quando a criatura volta a perturbar a pequena. 

A narrativa quando segue o arco da irmã mais velha é quando mais oscila, se escora no melodrama em momentos inoportunos ou na relação superficial com a amigas, na verdade a direção tenta fazer com que o melodrama seja a base narrativa, com isso extrapola o mesmo por toda a narrativa, tentando transmitir um pesar a todo momento, o que nem sempre é funcional.  

O pai não tem grande relevância em boa parte da trama, pois em relação a base narrativa essa é basicamente sua função, tendo em vista seu estado, a negação, o mesmo só vai ser afetado quando por para fora o que lhe corrói em segredo.  

Oscilando entre ótimos momentos de tensão e um melodrama disfuncional, o primeiro ponto é quem sustenta a trama, isso e a boa escolha da direção em manter a criatura nas sombras, seja por criar no imaginário do espectador sua real forma, ou em prol dos momentos assustadores que a criatura se esgueira por cantos escuros.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Boogeyman: Seu Medo é Real

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️ / 5,0

Direção: Rob Savage

Elenco: Sophie Thatcher, Vivien Lyra Blair, Chris Messina, David Dastmalchian, Marin Ireland, LisaGay Hamilton

Duração: 1h 38m

Roteiro: Mark Heyman

Fotografia: Eli Born

Trilha sonora: Patrick Jonsson

Ano: 2023