Toc Toc Toc: Ecos do Além
O cinema como um todo é uma arte de ilusões, que brinca com o espectador que geralmente, constantemente, tenta prever um possível próximo ato, então tudo bem quando um filme usa de tal artifício para arquitetar sua trama, porém que o faça de forma coesa e sutil, ao ponto que leve ao público algum nível de desafio, seja ele na compreensão da trama ou narrativa, em resumo que o longa tenha um objetivo definido.
Partindo disso toc toc toc, leva o espectador através do imaginário de uma criança somados à sua fragilidade e o quão indefesa a mesma pode ser, e tenta arquitetar a problemática, e digo tenta pois o longa por vários momentos parece não saber o que realmente quer, e uma das principais questões talvez esteja no uso dos pais, personagens constantemente indefinidos.
Acontece que isso se da de forma abrupta, forçando o público a relevar a falta de informação em prol da trama, que usando o jovem Peter (Woody Norman), como base narrativa, tenta moldar o mistério em torno do garoto, que como criança possui uma imaginação fértil, logo os acontecimentos podem ser apenas fruto de sua cabeça, ou não, o que nos leva a outro ponto problemático no texto.
E digo problemático pois, em paralelo a isso o longa tenta arquitetar seu plot, porém, que já fica evidente ainda no primeiro ato, mostrando que de forma intencional ou não, talvez em uma tentativa de ludibriar o público através da confusão do garoto, por exemplo, o comportamento estranho dos pais seria real ou mais uma peça pregada pela mente do garoto, uma incógnita interessante porém mal trabalhada.
Através disso o longa cria uma dualidade entre sobrenatural e realidade, porém que não se mantém por muito tempo, pois a direção se auto-sabota a todo momento, seja na interpretação caricata dos pais, que fazem com que a base narrativa se desmorone, porque se era a mente do jovem não faria sentido a atitude perante outros personagens, tendo em vista que aquele mundo de ilusões é algo subjetivo do garoto.
A trama rasa faz com a narrativa se atropele, sendo incapaz até mesmo de construir o suspense em torno do tormento do garoto, uma criança claramente menosprezada, e o resultado disso, uma mente repleta de armadilhas, que em uma tentativa de autodefesa também o coloca em risco, o fazendo cometer atos irreversíveis.
Risco esse que mais uma vez revela a inconsistência do texto, que na falta de desenvolvimento dos pais os coloca como vilões, algo que para a mente de alguém confuso faria sentindo, mesmo se revelando real, mas acontece que logo em seguida o longa revela o contrário, e mais uma vez a base narrativa é deixada de lado, fora as facilitações do texto para com a entidade, ou seja lá o que for aquilo.
Dessa forma o longa termina exatamente como começou, sem rumo, tentando ir por vários caminhos, porém sem sucesso em nenhum deles, seja na construção de algo mais subjetivo e sobrenatural envolvendo a mente do garoto, ou algo mais realista em que os pais seriam os verdadeiros monstros, e não uma entidade de origem duvidosa.
Crítica por: Filipe R. Bichoff
Título: Toc Toc Toc: Ecos do Além
Avaliação: ⭐️⭐️ / 3,0
Direção: Samuel Bodin
Elenco: Lizzy Caplan, Antony Starr, Woody Norman, Cleopatra Coleman, Luke Busey, Aleksandra Dragova
Duração: 1h 28m
Roteiro: Chris Thomas Devlin
Fotografia: Philip Lozano
Trilha sonora: Drum & Lace
Ano: 2023