Que Horas Eu Te Pego?

Que Horas Eu Te Pego?

27 de agosto de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

É correto afirmar que este ano ainda não tivemos uma comédia realmente memorável, e por incrível que pareça o destaque no gênero acabou sendo The Flash, um filme de herói assumidamente escorado na comédia, poderíamos também considerar Barbie, mas o longa conta com uma forte carga dramática, logo, não tivemos nada que se resumisse diretamente ao gênero, sem subtramas melodramáticas, não que seja um problema mas apenas para exemplificar. Então, o longa em questão surge como uma possível luz no fim do túnel, ou quase no fim do ano. 

Para se distanciar de qualquer verossimilhança, ou possíveis julgamentos a respeito de sua trama despretensiosa, o longa abre sua sequência inicial com um pêndulo, que nitidamente alude à genitália masculina, em uma sequencia que acaba deixando claro a infantilidade de alguns homens ao serem descartados, e dizendo muito também sobre a personalidade da protagonista, desapegada e avessa a compromissos. 

A trama busca aproximar dois semelhantes em mundos opostos, porém que desfrutam da mesma situação, forma e história de vida. Enquanto Maddie (Lawrence), luta sozinha para manter a casa em meio ao avanço da cidade, o jovem Percy (Feldman), tenta se descobrir em meio a solidão por muitos não o compreenderem. 

E através disso, uma vida solitária, a direção cria sequências hilárias que apenas pessoas em tal situação seriam capazes de protagonizar, seja o total desprezo pelo sentimento alheio, ou a completa falta de noção a respeito de interação social, o que nos garante ótimas sequencias em que um tenta se comunicar, e/ou compreender de alguma forma o outro. 

Assim a dupla de protagonistas exibe, além de um ótimo timing cômico, a química necessária para ir até onde o longa exige, não uma história de amor, mas sim de amizade, compreensão e acima de tudo aceitação. Pontos invisíveis aos olhos, por exemplo de pais extremamente protetores, que em uma tentativa falha de ajudar isolam o filho ainda mais em sua bolha, justamente por uma dificuldade de comunicação, o que explica a dificuldade do filho, que basicamente sofre com um problema hereditário. 

Por isso a importância de um na vida do outro é essencial, justamente por essa compreensão a respeito de mundos e vivências, ao ponto que mesmo de forma inconsciente existe empatia, algo que muitos as vezes precisam para dar um passo na direção da liberdade, saindo de suas bolhas e descobrindo o mundo.  

A diferença de idade entre os personagens não é mera conveniência, ou um simples artificio cômico do gênero, mas sim um dos principais pontos positivos do roteiro, pois é aqui que o texto consegue de forma simultânea expor a mesma situação, que apesar da forma como foram construídas resultam no mesmo fim, contrapondo duas gerações, que apesar do contexto se veem em uma situação semelhante. A geração muda, a tecnologia avança, mas ainda assim nos vemos diante dos mesmo problemas.  

Dessa maneira o longa atinge dois extremos, caminha parcialmente pelo besteirol, mas tira o pé em determinados momentos em que a narrativa pede por algo mais sólido, geralmente quando se trata do intimo de determinado personagem. 

As piadas são hilárias, mas o roteiro é consciente, e expõe o abandono de forma eficaz, abandono esse que antes para ser possível os pais precisavam sair de casa ou se divorciarem, hoje é possível ter um jovem abandonado porém que vive na mesma casa que os pais, interagindo apenas através de telas, e agindo também, pois diante de qualquer situação minimamente extrema passa a filmar tudo.  

Que horas eu te pego é isso, mas acima de tudo, é uma comédia astuta que em meio à reflexões consegue nos arrancar boas gargalhadas, seja através de situações extremas, ou de algo mais próximo de nossa realidade, que de alguma forma passamos por algo parecido, se não vivendo, provavelmente já presenciamos.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Que Horas Eu Te Pego?

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0

Direção: Gene Stupnitsky

Elenco: Jennifer Lawrence, Andrew Barth Feldman, Laura Benanti, Matthew Broderick, Natalie Morales, Scott MacArthur, Ebon Moss-Bachrach

Duração: 1h 43m

Roteiro: Gene Stupnitsky, John Phillips

Fotografia: Eigil Bryld

Trilha sonora: Mychael Danna, Jessica Rose Weiss

Ano: 2023