Uma Noite de Crime: A Fronteira

Uma Noite de Crime: A Fronteira

17 de agosto de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

Após quatro filmes, em que o desgaste da franquia já era evidente, confesso que não tinha muitas esperanças com esse novo capítulo, o destaque realmente ficava com o primeiro exemplar, que diferente dos demais era mais contido e apostava no suspense, e mesmo não sendo uma obra-prima seu resultado final é satisfatório, tanto que rendeu uma franquia que vem sugando até a última gota do foi criado lá, e que nos a esse novo longa. 

A premissa despretensiosa e pouco inspirada conduz o espectador a mesmice, dando a entender estarmos diante de mais uma matança gratuita que só irá usar o nome da franquia para usar sua temática e atrair público, tendo em vista que a franquia já não tinha muito mais a apresentar juntamente com a decadência que a mesma vinha trilhando com o passar do anos.  

Até o fim do primeiro ato o roteiro já evidencia sua fragilidade, contendo algumas decisões questionáveis envolvendo um ou outro personagem, em paralelo a isso direção tenta emplacar a trama na base de alguns jump scares absolutamente sem sentido, o que nos leva a prever o que possivelmente está adiante no decorrer do longa.  

Mas a trama realmente começa a tomar forma a partir daí, isso tudo graças ao diretor mexicano Everardo Gout, que traz para a franquia uma vertente sob outra perspectiva, algo mais voltado para segregação, e que para tal temática passa a fazer todo sentido tendo em vista que, para atacar ou se defender no dia do expurgo o poder aquisitivo faz todo a diferença.  

O roteiro é limitado, e se faz simplório demais em alguns momentos, por sorte o diretor consegue se esquivar dessas conveniências e voltar as atenções do público para o todo, seja através da ação ou da parte mais gráfica, mesmo que aqui tenha menos espaço.  

A confusão do roteiro fica mais evidente quando o mesmo tenta dar a mesma importância aos dois grupos que a trama nos apresenta, sendo que a base narrativa diz o contrário, logo, fica quase impossível qualquer tipo de conexão do espectador para com os ricos que há pouco tempo estavam desmerecendo o personagem e a família de Juan (Huerta), insinuando um possível conflito durante a noite do evento, o que revela um roteiro trapaceiro em partes. 

Mas é ai que o olhar do diretor faz a diferença, evidenciando as minorias e levando o público a fazer o mesmo, o que graças ao carisma de Huerta e sua esposa vivida pela atriz Ana de La Reguera, tornam essa tarefa um pouco mais fácil, o que acaba por enaltecer o teor dramático do longa, causando empatia por parte do público e contribuindo com o lado funcional da narrativa, pois os personagens passam a ter importância.

Diferente do original a direção se volta mais para a ação, conseguindo através de sequências simples transmitir a tensão necessária, sem a pretensão de ser mais e maior. Por fim, um longa que poderia simplesmente seguir a base de seus antecessores, e apostar apenas na violência gratuita, faz o contrário, isso graças a uma direção consciente, capaz de driblar um roteiro problemático e extrair algo satisfatório de uma trama que a principio era um caso perdido.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Uma Noite de Crime: A Fronteira

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️ / 6,0

Direção: Everardo Gout

Elenco: Ana de la Reguera, Tenoch Huerta, Josh Lucas, Leven Rambin, Cassidy Freeman, Alejandro Edda, Will Patton

Duração: 1h 43m

Roteiro: James DeMonaco

Fotografia: Luis David Sansans

Trilha sonora: The Newton Brothers

Ano: 2021