Oppenheimer

Oppenheimer

24 de julho de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

Existem muitas formas de se alcançar a fama, seja através de algum talento artístico, ou de um grande feito para a humanidade, àqueles que rendem até mesmo prêmios. Porém a fama de Robert Oppenheimer veio de forma controversa, ao ponto, do mesmo questionar seus atos e ao mesmo tempo ser condenado pelos mesmos, a ironia, condenado por não “aceitar” os méritos de um feito pelo qual ela sequer conseguiu se orgulhar. 

Deixando um pouco de lado sua megalomania, até certo ponto, Nolan traz em sua última obra uma trama em menor escala, que apesar de permear algo grandioso se volta para os efeitos psicológicos que a criação de Oppenheimer causou em si próprio, logo, o longa é mais sobre humanidade e as reais motivações que levam há um feito tão grandioso, e assustador ao mesmo tempo. 

A premissa ágil e por vezes abrupta, traz um breve resumo da vida do protagonista, que revela de longe um Cilian Murphi apático e atormentado, uma performance realmente admirável. Tal feito narrativo revela uma pressa do diretor em ir direto ao ponto, o que pode atrapalhar o espectador em imergir naquele universo logo de início, algo que ocorre pela rapidez que algumas informações surgem em tela permeadas rápidas explosões. 

A narrativa é repleta dessas explosões, frames de átomos em colisão, ou sons relacionado ao mesmo, um detalhe que o diretor utiliza para mostrar ao público como o protagonista enxerga o mundo, e como aquilo constantemente o perturba, pois sua mente basicamente não para, algo ilustrado de forma eficiente pela direção, e passamos a compreender melhor após um certo tempo.  

Assim, em paralelo a construção de uma das maiores armas da humanidade o diretor desenvolve o arco dramático de ascensão e queda do protagonista, seguidos pelo principal motivo que levou a construção de tal arma, algo que na verdade sempre está por traz de tudo, política, e as fortes tendências comunistas do protagonista, algo que vai contra seu feito e o leva a ser julgado e suspeito de espionagem pelo alto escalão da direita.

Motivo pelo qual o protagonista se vê atormentado, e também condenado, pois o mesmo entra em contradição com seus próprios princípios, porem a pressão externa é tanta que ele sede, algo que o diretor ilustra durante os debates, em que o protagonista está sempre cercado, acuado, justamente por ser minoria. Mas, não existe pior condenação do que a própria, e isso não tem volta.  

Porém mais uma vez Nolan se esforça para contar uma história grandiosa, e até consegue, a trilha invocando algo emergente é extremamente imersiva, assim como a sonoplastia, mas o problema é a relação e desenvolvimento dos personagens, o excesso de diálogos expositivos torna a narrativa cansativa, seguidos pelo excesso de personagens que precisam ter seu momento.  

Talvez até mesmo pela história em si, devido sua natureza trágica, seja algo que nos impeça de qualquer tipo de proximidade com os personagens, algo essencial para se conectar a trama, um detalhe que se estende também ao protagonista, suas relações são rasas e não causam empatia, talvez por sua trajetória ser, no fim das contas, mais solitária e subjetiva, só que é algo que também é problemático pois não tem ênfase suficiente.  

Assim, os inúmeros flashbacks, me refiro as sequências em preto e branco, que até agora não vejo explicação, a não ser o diretor implorando para ser levado a sério, auxiliam nesse distanciamento entre personagem e espectador, dando ao longa um ar quase documental nesses momentos, e tornando a narrativa confusa.  

Mais uma vez, o teor político tem suma importância na história do protagonista, tendo relação de causa e consequência em sua trajetória, porém para preencher as três horas de duração, Nolan arrasta a trama por debates cansativos que parecem não ter fim, reafirmando quase sempre a mesma coisa, e revelando mais uma vez a necessidade de superioridade do diretor que visa uma dramaticidade excessiva. 

Quando o longa se volta para o lado do físico teórico e seus desafios é acertivo, e muito mais funcional, porém esses momentos tendem em se encaminhar para mais uma sequência de tribunal, resultando em uma quebra de ritmo narrativo e revelando que as três horas de duração não se justificam.  

Oppenheimer é uma tentativa mascarada de Nolan em ser mais discreto, mas que na verdade busca o tempo todo por algum tipo de espetáculo, seja nas explosões, que sim são magníficas, e em IMAX são ainda melhor, em especifico a detonação principal, é algo realmente sublime e ponto forte do diretor, porém os debates sem fim que alternam entre bons momentos e o tédio completo, resumem o longa há altos e baixos e um resultado final apático.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Oppenheimer

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️ / 6,0

Direção: Christopher Nolan

Elenco: Cillian Murphy, Emily Blunt, Matt Damon, Robert Downey Jr., Alden Ehrenreich, Jason Clarke, Tony Goldwyn, Dylan Arnold, Florence Pugh

Duração: 3h

Roteiro: Christopher Nolan

Fotografia: Hoyte Van Hoytema

Trilha sonora: Ludwig Göransson

Ano: 2023