Barbie

Barbie

23 de julho de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

Diferente de seus trabalhos anteriores, mais intimistas, aqui Greta está basicamente conduzindo um blockbuster, que além disso ainda carrega o peso de mexer com o espectador de maneira muito particular, devido o longa tratar de um brinquedo que fez parte da infância de várias gerações, logo, ela não teria a total liberdade que sempre teve, justamente por isso, mesmo abordando temas diversos ainda assim, precisava ser um filme da Barbie. 

E ela consegue isso. Usando da premissa extravagante a diretora mergulha o espectador em um mundo mágico, de modo a forçar o público a se adaptar e aceitar aquilo com naturalidade, para logo, fazer um paralelo ao mundo real, usando todo aquele excesso para criar uma utopia, seja naquele ou no nosso mundo, o mundo real, em que a distopia é posta.  

O longo período naquele universo fantástico serve como uma adaptação para o público, para assim prepará-lo para o por vir, uma trama que basicamente se passa ali, subvertendo as expectativas de algo mais óbvio como uma aventura da boneca no mundo real, assim a diretora consegue através de todo aquele exagero exprimir problemas reais de modo cômico, com um belo toque de acidez, em que alguns riem por enxergar o mundo ao seu redor de forma tão caricata, outros manifestam um riso involuntário por se verem representados.  

A diretora usa do breve passeio de Barbie (Margot), pelo mundo real para contrastar de maneira deliberadamente gritante, o que a história, diferente do que acha a protagonista, reservou para as mulheres, e como tal sistema é tão estrutural ao ponto de algumas mulheres estarem alheias ao mesmo, se vendo como mera coadjuvantes em sua própria realidade, em que seu papel já é imposto desde a infância com bonecas bebes, cozinhas e afins.  

E sabiamente a diretora usa daquele universo mágico para extrapolar em cada assunto, mantendo seu teor cômico de sempre, mas que aqui devido às proporções se exalta, expressos em caricaturas de um mundo dominado pelo patriarcado, uma caricatura visível para quase todos, exceto por alguns olhos masculinos, o motivo dessa falta de compreenssão também é visto em tela, através do personagem do sempre hilário Will Ferrel, se é que me entendem. 

A narrativa pode causar uma breve estranheza quando mundo real e fantasioso se misturam, como em algumas passagens pela mattel, porém é algo proposital, afim de expor como alguns se tornam caricaturas de si mesmos, ou melhor, uma extensão em que todos são extremamente parecidos, exaltando sempre uns aos outros e ressaltando como são “incríveis”. 

A facilidade da diretora em mesclar drama e comédia aqui se perde um pouco, a necessidade por um momento melodramático leva a diretora a insistir em planos fechados em Margot, ou flashes de vídeos caseiros seguidos por uma trilha melancólica que tem como único intuito implorar por uma lágrima do público, na primeira vez até funciona, na primeira.  

O tema apesar de pertinente se repete em alguns momentos, mas que graças a um olhar certeiro da diretora, acabam sendo salvos geralmente por um alívio cômico sensacional.  

Greta usa de toda fantasia que envolve Barbie para aludir à distorções do mundo real, e que graças ao tema consegue faze-lo de modo ousado e basicamente sem fronteiras, ou se limitando-se as entrelinhas, algo que poucos filmes foram capazes, e ainda assim, em meio a todas aquelas cores e piadas exageradas o longa consegue causar reflexões que tendem a ficar em nossa cabeça um bom tempo, mesmo que algumas pareçam tão obvias, expondo a importância e o quão marcante um brinquedo pode ser na vida de alguém, e não me refiro as crianças.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Barbie

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0

Direção: Greta Gerwing

Elenco: Margot Robbie, Ryan Gosling, Issa Rae, Kate McKinnon, Alexandra Shipp, Emma Mackey, Hari Nef, Sharon Rooney, Ana Cruz Kayne, Ritu Arya, Dua Lipa, Nicola Coughlan, Simu Liu, Kingsley Ben-Adir, Ncuti Gatwa, Michael Cera, America Ferrera, Ariana Greenblatt, Will Ferrell

Duração: 1h 54m

Roteiro: Greta Gerwing, Noah Baumbach

Fotografia: Rodrigo Prieto

Trilha sonora: Mark Ronson, Andrew Wyatt

Ano: 2023