Adoráveis Mulheres

Adoráveis Mulheres

8 de julho de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

Se antes a diretora Greta Gerwing mostrou-se hábil na condução de uma comédia levemente dramática, aqui seu talento é provado mais uma vez, através de seu olhar certeiro e sempre delicado. Se antes seu longa se limitava a história de uma mulher forte em Lady Bird (2017), aqui são várias, vivendo em um período em que apenas o fato de ser mulher já era um fardo, e a falta de perspectiva levava as mesmas há um único objetivo, ou sina, o casamento. 

Além de aludir diretamente há um período, indiretamente o longa também faz alusão à nossa época, seja por desafios enfrentados pelas mulheres até hoje, ou na própria história do cinema e a forma como as mulheres eram retratadas, e de certa forma ainda são, seja pela necessidade de uma donzela indefesa, ou se encaixar em requisitos masculinos para só então estarem prontas para serem boas esposas, e assim nunca terem voz. 

O primeiro diálogo do longa, detalhe que já mostra a força do roteiro, Jo (Saoirse Ronan), apresenta seu trabalho para um redator, que além de desdenhar do mesmo questiona o final, indigno para uma mulher, destacando em como isso irá repercutir e a maneira como ela, a protagonista de seu livro, será vista, resultando em uma rejeição por parte do público, logo um fracasso de vendas. O detalhe interessante é notar como o longa faz um paralelo a trama do livro de Jo, e a mesma luta não pelos diretos de sua personagem, mas de si própria.

A premissa leve serve como captador do espectador, afim de apresentar os personagens e levar o público a imergir nos anos de 1860. Com isso somos apresentados a uma família de mulheres, que devido as circunstancias não tem outra opção a não ser, serem fortes, assim com a ausência do pai devido a guerra a mãe também é obrigada a se ausentar, levando as meninas a se unirem, vinculo que a diretora desenvolve de forma eficiente, até mesmo diante dos conflitos bobos. 

Em meio à busca pelo “casamento certo”, o texto revela o quanto a sociedade oprime uma mulher independente, detalhe histórico e ainda presente nos dias de hoje, mesmo em menor escala, no caso essas mulheres são representadas pela protagonista, que me meio a uma vida de decepções referente a suas escolhas, a mesma não vê outra opção a não ser seguir as imposições por se ver só, mesmo que isso resulte em uma vida infeliz. Apesar de tal situação ser imposta por uma sociedade machista, a diretora se atenta em não vilanizar os personagens masculinos, que apesar de estarem do outro lado também são parte do sistema, são apenas meninos. 

A narrativa com início inspirador aos poucos vai ganhando um tom melancólico, tom esse que é retratado através da fotografia dessaturada afim de refletir a realidade da protagonista, e em paralelo a isso temos tons mais quentes, que além de dar vida a realidade criada em seu conto, também reflete seus dias felizes, sua infância, período em que tudo parecia mais fácil e alegre.  

A montagem dinâmica parte da perspectiva da protagonista, culminando em uma narrativa não linear que se encaixa perfeitamente a trama, um artificio diegético que casa perfeitamente com a técnica da diretora, em que a mesma introduz cortes rápidos afim de aparar arestas e ir direto ao ponto. 

O final ainda brinca com o espectador, fazendo um paralelo a como a maioria deseja o final para uma protagonista feminina, em meio a clichês do gênero usados de forma cômica. Porém, aqui seu final é tudo que ela sempre buscou, e almejou para todas as mulheres, independência, melhores condições para todas, sua arte ganhando vida e trazendo sustento, mesmo que com algumas interferências no ato final.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Adoráveis Mulheres

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0

Direção: Greta Gerwing

Elenco: Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Eliza Scanlen, Laura Dern, Timothée Chalamet, Louis Garrel, James Norton, Meryl Streep, Bob Odenkirk, Tracy Letts

Duração: 2h 15m

Roteiro: Greta Gerwing

Fotografia: Yorick Le Saux

Trilha sonora: Alexandre Desplat

Ano: 2019