Lady Bird: A Hora de Voar

Lady Bird: A Hora de Voar

2 de julho de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

O subtítulo alude diretamente há um momento muito comum, e importante, na vida dos jovens, a saída de casa para buscar novos horizontes em uma faculdade geralmente longe da mesma. Apesar de não ser algo muito comum por aqui, no Brasil, podemos fazer um paralelo ao momento em que deixamos a casa dos pais, algo inevitável e geralmente um processo doloroso, em específico para os pais, assim como vemos no longa. 

Em sua estreia no comando de um longa-metragem, a diretora Greta Gerwing se mostra detentora de um olhar o extremamente delicado, e enfático, abordando assuntos pertinentes há um momento de transição na vida de um jovem, e que provavelmente irá moldar boa parte de suas vidas. A maneira que diretora equilibra a narrativa sob uma linha tênue, afim de não exagerar seja no drama ou na comédia, faz com que o longa atinja todos os públicos, pois o todo acima de tudo é leve.  

E tal forma como a diretora conduz a trama permite que a mesma passeie entre o drama, base narrativa, porém com um leve toque de comédia afim de não tornar a trama pesada, tendo em vista que acima de tudo ainda assim estamos acompanhando um drama adolescente, por isso todo o exagera faz sentido, como as paixões avassaladoras, os melhores amigos do mundo, os piores pais, tudo na medida pois o longa tem ciência que está lindando com um momento de nossas vidas em que tudo é extremo, oito ou oitenta, não existe meio termo.  

Ciente disso a narrativa ágil não perde tempo, com cortes abruptos a diretora vai de um fato à consequência rapidamente, como o momento em que a amiga visita “a casa” de Lady Bird (Saoirse Ronan), a diretora elimina todo o excesso, e vai direto ao ponto, com as personagens frente a frente e esclarecendo os fatos, resolvendo de forma tão rápida quanto.  

E através disso a diretora usa de personagens chave para tratar de determinados assuntos que moldam à realidade de Lady Bird, e que aludem a realidade. Por exemplo, através do pai vivido pelo ator Tracy Letts, a diretora revela a ineficiência do capitalismo, que descarta pessoas como números afetando diretamente o particular das mesmas, beneficiando apenas quem está por cima, e funcionários que apesar de uma vida de dedicação não conseguem sequer dar aos filhos o conforto desejado. Através de Danny (Lucas Hedges), vemos a tortura psicológica da religião, levando um jovem a se oprimir, usando uma máscara, culminando em um dos momentos mais tocantes do longa, sua conversa com Lady Bird. 

Ainda sobre a ligação com o pai, a que mais afeta a protagonista, a diretora revela como o ambiente em que nascemos nos afeta, Lady Bird tem vergonha de tudo ao seu redor, ao se comparar com os amigos ricos, e uma realidade fora da sua, a mãe vivida pela atriz Laurie Metcalf, alude a mães como um todo, que ao não saberem se expressar quase anulam os filhos, afim de mantê-los por perto e de certa forma seguros, impedindo o amadurecimento dos mesmos.  

Tudo isso sem exageros no teor dramático, apenas com momentos que são pontuados durante o roteiro através de diálogos certeiros, mérito de uma condução delicada somados a uma protagonista com um timing cômico perfeito, Saoirse traz as nuances exatas à personagem, que em um momento nos causa risos espontâneos em outro lágrimas tímidas, mas incontroláveis. 

Por fim, em sua breve estadia em um meio fora de sua realidade, a protagonista vê algo que por fora daquela bolha é invisível, que por traz de todo aquele glamour, excessos e muito dinheiro, existem vidas vazias e muitas vezes solitárias, mostrando a ela o que realmente tem valor, e não apenas preço, incluindo as belezas que estão ao seu redor no dia a dia, e até mesmo seu verdadeiro nome.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Lady Bird: A Hora de Voar

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 9,0

Direção: Greta Gerwing

Elenco: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts, Lucas Hedges, Beanie Feldstein, Timothée Chalamet, Stephen McKinley Henderson, Odeya Rush, Jordan Rodrigues, Marielle Scott, Lois Smith

Duração: 1h 34m

Roteiro: Greta Gerwing

Fotografia: Sam Levy

Trilha sonora: Jon Brion

Ano: 2018