Vem Brincar

Vem Brincar

1 de maio de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

Com uma premissa básica o longa fisga o espectador para dentro de uma história que vai um pouco além da superfície, não fossem as conveniências de roteiro teria um resultado final ainda melhor, mas ainda assim o mesmo funciona tanto com a mensagem intrínseca, como um suspense satisfatório, contendo momentos tensos o suficiente para garantir bons sustos com uma pitada de melodrama.

A direção é astuta para usar da premissa superficial para incluir os elementos de terror, e assim fazer valer a atribuição ao gênero, e não entenda superficial como fraca, mas sim como uma maneira que a direção encontrou para mesclar os gêneros e trazer algo relevante em ambos. 

Assim, em paralelo a isso o longa desenvolve os personagens que giram em torno do pequeno Oliver (Azhy Robertson), um garoto com autismo, em que a alegoria do longa alude à sua sensibilidade e a forma como o garoto vê o mundo ao seu redor, fazendo todos que o rodeia procurar a melhor forma de fazer parte do universo do garoto, seja na tentativa de ser um bom amigo ou bons pais, sendo esse o maior desafio. 

A maneira como a criatura se manifesta por meio das telas se expande para o público de modo geral, aludindo diretamente ao mundo em que vivemos, em que pessoas se voltam para às telas e submetem seus filhos as mesmas, para assim ter o trabalho aliviado, mas ao mesmo tempo cria um abismo entre as partes, tornando o desafio da criação ainda maior pois dificultam o desenvolvimento social de seus filhos, tornando a comunicação quase impossível.  

 E em paralelo à isso a direção aproveita para trazer momentos tensos de arrepiar a espinha, seja pelo uso das telas, aqui uma janela para outra realidade, ou no mundo real com o uso das luzes, criando cantos escuros que constantemente aludem a presença da criatura, invisível a olho nu.  

O longa só desliza no desenvolvimento da relação entre os pais, limitada a diálogos pouco inspirados, isso quando acontecem pois a maior parte do tempo o casal passa afastado um do outro, talvez de forma intencional por parte do roteiro para cria um pai ausente, mas como o desenvolvimento do personagem é fraco a intenção falha. Outro ponto é quando o longa decide materializar a criatura no mundo real, destruindo toda a criação em torno da mesma e o medo do que não se pode ver, até mesmo os efeitos visuais que antes através da tela do celular eram funcionais perdem toda a credibilidade no mundo real. 

Constituído por bons momentos, e sustos por vezes certos e outros que apelam para o jump scar, o longa se vale pela relação entre mãe e filho e o desafio ainda maior quando o pai é ausente. Com espaço para uma abordagem mais profunda o longa perde oportunidade, e se limita a um resultado mediano.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Vem Brincar

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️ / 6,0

Direção: Jacob Chase

Elenco: Azhy Robertson, Gillian Jacobs, John Gallagher Jr., Winslow Fegley, Jayden Marine, Gavin MacIver-Wright

Duração: 1h 36m

Roteiro: Jacob Chase

Fotografia: Maxime Alexandre

Trilha sonora: Roque Baños

Ano: 2020