Perfume: A História de Um Assassino
O surgimento de um assassino em série pode estar relacionado há inúmeros fatores, seja predisposição genética, infância problemática ou até mesmo influência do ambiente que tal pessoa vive. No caso, o protagonista de Perfume, assim como a criação de uma fragrância, tem um pouco de cada uma das características, que somadas resultam em um monstro, à quem de humanidade ou compaixão.
O longa apresenta um estudo de personagem dos mais complexos possível, além de levar o espectador a acompanhar o protagonista desde o nascimento, ainda conta com um narrador em terceira pessoa, afim de explorar o íntimo do personagem, quase que um reflexo de seus pensamentos, tendo em vista que o mesmo basicamente não possui falas, uma escolha de roteiro admirável.
A montagem e fotografia são pontos em destaque aqui, pois são responsáveis por detalhes que tornam a ambientação do longa o mais verosímil possível, tornando possível quase sentir o odor fétido do mercado de peixes, ou refletir o dom do protagonista através de corte rápidos que sugerem sua visão do mundo, a sonoplastia também tem papel importante.
Apesar de apresentar um assassino em série, o longa não pende para o apelo visual, algo comum em longas do gênero, em que as vítimas são destroçadas e o banho de sangue marca presença forte em tela, tudo em prol de uma de uma trama por vezes rasa, o que aqui não é o caso, o que ressalta o quão próximo ao material de origem o longa se coloca, se atentando aos detalhes.
O terror no caso é psicológico, e a direção opta pela tensão mais sutil e melhor desenvolvida, até porque o protagonista não é alguém extremamente violento, mas também não é movido por impulso, seus atos são friamente calculados. O que reforça o trabalho do protagonista, que mais uma vez, devido a ausência de falas, precisa de um trabalho redobrado para transmitir os sentimentos do personagem, seja através de um gesto em que a força se excede ou no olhar frio e por vezes invasivo.
Nesse sentido entra o papel da trilha sonora, intensa e constante a mesma mergulha o espectador no íntimo do personagem, e expondo de maneira incrível basicamente o orgasmo de odores do protagonista, reforçado através de um trabalho corporal tão admirável quanto, compondo toda a complexidade do personagem.
O fato de suas vítimas serem todas mulheres faz com que o longa dialogue diretamente com algo mais próximo da realidade, em que a sensação de posse faz com que muitos homens sintam vontade de aprisionamento, de guardar para si, como se mulheres fossem mero objetos em que os mesmos se sentem no direito de tomar para si, meramente para satisfazer seus impulsos animalescos e fora de controle.
A captura de Jean-Baptiste (Ben Whishaw), reforça a sociedade como juiz e júri, em que criam seus monstros para em determinado momento torná-los ídolos, simplesmente por aparentar ser inocente ou por ter boa aparência assim como foi o caso de Bundy, diminuindo ou esquecendo suas atrocidades, os fazendo ídolos que movem multidões de fãs, o que revela que o problema pode não ser apenas o assassino.
Crítica por: Filipe R. Bichoff
Título: Perfume: A História de Um Assassino
Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 9,0
Direção: Tom Tykwer
Elenco: Ben Whishaw, Dustin Hoffman, Alan Rickman, Rachel Hurd-Wood
Duração: 2h 27m
Roteiro: Andrew Birkin, Bernd Eichinger, Tom Tykwer
Fotografia: Frank Griebe
Trilha sonora: Tom Tykwer, Johnny Klimek, Reinhold Heil
Ano: 2006