Sobrenatural

Sobrenatural

19 de abril de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

Lançado bem no epicentro da era dos clichês, onde em sua maioria os filmes de terror eram mais do mesmo, chega Sobrenatural, e em sua proposta, mais uma história de assombração, dentre várias outras. Porém o longa se coloca na contramão da maioria, atraindo o espectador com uma premissa interessante e acima de tudo com uma direção eficiente.

O longa pegou a todos de surpresa, entregando uma trama envolvente e personagens bem desenvolvidos. Se antes o que víamos eram personagens descartáveis, onde sua única função era corroborar com sustos aleatórios e morrer de tal forma que o espectador não desse a mínima, aqui a direção prova que é possível extrair uma boa trama do gênero mais popular, e ao mesmo tempo injustiçado.

Isso tudo graças a um nome ainda não muito conhecido na época, James Wan, que com o tempo viria a se tornar um mestre do suspense/terror. O diretor prova que é possível entregar um longa de qualidade mesmo com um roteiro simples, apesar de trazer alguns temas pouco explorados, como o fato do assombrado ser o garoto e não a casa, algo comum em filmes de exorcismo.

A direção de Wan constrói o suspense de maneira gradativa, através das sombras e uma fotografia dessaturada, a câmera sempre a espreita da indícios de que algo está observando a família, onde nos planos mais longos a direção expõe que não há como escapar, eles sempre serão acompanhados.

Aqui Wan mostra que é possível mesclar elementos do terror com clichês, porém em favor da narrativa, como os famigerados jump scares, em sua maioria usados para preencher uma trama vazia, aqui são usados da maneira correta, somando a narrativa, servindo como o ápice da tensão construída durante a cena e dando seguimento a trama, não de maneira gratuita com intuito de gerar sustos aleatórios.

A trama é marcada por dois pontos de virada, sendo o segundo um plot twist com um ganho para uma sequência. Porém o mais significativo está na descoberta a respeito da infância de Josh (Patrick Wilson), mostrando os efeitos que algo reprimido na infância podem gerar na vida adulta, e até mesmo nas próximas gerações de maneira hereditária, onde de maneira sutil a direção deixa pistas sobre o que assombra cada personagem, Josh não tem fotos e se recusa a tirar novas, Dalton (Ty Simplins), expõe através de seus desenhos não notados pelos pais, e o resultado de tamanha desatenção é o que vemos na trama.

A maioria dos longas do gênero são marcados pelo que ocultam, as criaturas são pouco exploradas e quando surgem em tela são escondidas pela montagem através de cortes abruptos, funcionais em alguns casos, porém ineficientes em outros. Ciente disso, Wan subverte todas as expectativas e expõe cada detalhe de seus monstros, inclusive na cena inicial. Provando que o suspense é constituído através da narrativa, e na tensão que a mesma gera no espectador, e isso é visto em Sobrenatural de maneira crescente, culminando em algo além de qualquer expectativa e sendo corajoso ao mesmo tempo.

A direção de James Wan é única, onde o diretor consegue sempre imprimir sua marca sem soar repetitivo, os traços da direção dele estão ali, presentes, porém sempre inovadora. E em Sobrenatural não poderia ser diferente, o diretor desenvolve uma trama envolvente, personagens que cativam e tem o apreço do espectador, tudo isso sob uma perspectiva única, envolvidos em uma narrativa que segue uma tensão constante, entregando um trabalho que mostra como é possível fazer um longa de qualidade mesmo com elementos clichês.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Sobrenatural

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0

Direção: James Wan

Elenco: Patrick Wilson; Rose Byrne; Barbara Hershey

Duração: 1h 43m

Roteiro: Leigh Whannel

Fotografia: John R. Leonetti

Trilha sonora: Joseph Bishara

Ano: 2011