A Morte do Demônio

A Morte do Demônio

17 de abril de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

Talvez o longa em questão seja um dos melhores exemplos de como se produzir um remake, o longa respeita a base do original e consegue um feito quase impossível em relação a releituras, superar o original. Não desmerecendo, pois em relação à qualidade o original é único, mas em relação ao horror, o que vemos em tela é uma atualização extremamente eficiente no gênero em si, deixando pra trás o lado parcialmente cômico do original e se voltando única e exclusivamente para o horror.

A premissa segue a base do original, um grupo de amigos busca o isolamento em uma cabana na floresta, porém não como a maioria, que o faz por curtição, aqui é por um bem maior e foge a esse típico clichê. O longa já impressiona pela ambientação, o clima nebuloso torna tudo mais misterioso e precede algo que fica quase evidente ao público, mas não aos personagens, detalhe que auxilia na construção do suspense logo nos primeiros minutos. 

A direção de Fede Alvarez se inspira brevemente no estilo do mestre Sam Raimi, porém sem a audácia de tentar imitar, ou escorar a narrativa no que Raimi construiu no passado, referencia alguns momentos icônicos porem como deve ser, sem exageros. Alvarez se matem firme e traz uma direção estilosa e incômoda, dando um novo ponto de vista sobre os acontecimentos naquela cabana amaldiçoada, trazendo algo mais visual e menos sugestivo, em primeira pessoa, como Raimi costumeiramente faz em seus projetos.  

Abandonando qualquer resquício de comédia, a direção se volta para o terror e suas inúmeras formas de impactar o espetador, o fazendo como um exímio mestre do gênero, seja em uma sequencia em que a tensão é elevada ao máximo, ou em casos em que o espectador mais sensível sequer irá conseguir olhar para o que esta em tela, tamanho o empenho da equipe de maquiagem. 

Com isso o longa pode explorar todo o potencial da história, exibindo e expandindo detalhes a respeito do livro dos mortos e as inúmeras formas de combater o mal ali presente, sempre antecipando alguns detalhes para o espetador afim de gerar tensão, função essa que fica por encargo do curioso professor Eric (Lou Taylor), responsável por esclarecer detalhes da trama e possíveis soluções ao público, função essa que faz o roteiro o mantem vivo por boa parte do tempo.   

A fotografia fria e repleta de sombras como dito, cria uma ambientação tensa, em que constantemente temos a sensação de algo oculto nas sombras, e realmente tem. Detalhe esse que a trilha sonora faz questão de enfatizar com uma sequência de acordes agudos, seguidos pela sonoplastia excelente, pois torna ainda mais real os sons de perfuração ou carne sendo fatiada, o que fica evidente na sequência do banheiro envolvendo a personagem Olivia (Jessica Lucas), em que quase não há luz e é o som que antecede o fato. 

Além do medo, o fator principal do longa é o incômodo, a aversão causada durante toda a trama, algo que tem sentido narrativo pois os mesmos se encontram fora de si. Com isso a direção usa e abusa do body horror e do gore, transformando o longa em um verdadeiro banho de sangue, extremamente realista, pois respeitando as origens e o que fez do clássico o que é hoje, o diretor opta por usar apenas efeitos práticos, o que torna tudo ainda mais realista e horripilante.  

 Outro detalhe de suma importância e que torna tudo ainda mais crível é a performance de Jane Levy a Mia, as nuances que a atriz cria para compor as transições da possessão da personagem são incríveis, detalhes ressaltados por uma maquiagem no ponto, mantendo as expressões da atriz a mostra e facilitando seu trabalho, sustentando com maestria o protagonismo do longa.  

E além disso tudo, o longa se coloca como uma grande alusão ao enfrentamento das drogas por uma dependente química, que luta arduamente contra algo, porém que está além de suas forças sendo mais poderoso que ela, Mia no caso. E os amigos em uma tentativa ignorante ou preconceituosa de ajudar, tentam um isolamento a força, agravando a situação e ainda os afetados diretamente, até porque algo assim sempre respinga nos entes queridos.  

Recriar um clássico dessa magnitude é algo realmente digno de todos os aplausos e méritos possíveis, e Alvarez o faz e ainda vai além, mergulhando de cabeça nesse universo e fazendo tudo que o mesmo lhe permite, expandindo um dos maiores clássicos do gênero, e trazendo um autêntico show de horrores, no melhor sentido da palavra.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: A Morte do Demônio

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 9,0

Direção: Fede Alvarez

Elenco: Jane Levy, Shiloh Fernandez, Jessica Lucas, Lou Taylor Pucci, Elizabeth Blackmore, Phoenix Connolly

Duração: 1h 31m

Roteiro: Fede Alvarez, Rodo Sayagues

Fotografia: Aaron Morton

Trilha sonora: Roque Baños

Ano: 2013