Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Glass Onion: Um Mistério Knives Out

5 de março de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

O principal desafio para Glass onion seria manter a qualidade de seu antecessor, sem se fazer repetitivo, tendo em vista que um longa envolvendo um misterioso assassinato não teria muito para onde ir. Por sorte o diretor Rian Johnson não se acomodou ao ponto de se manter na zona de conforto, e buscou novos caminhos para a sequência de seu longa de 2019.

Ao começar pela introdução, que ao mesmo tempo que é dinâmica é genial, pois através da mesma o diretor expõe ao espectador todos os personagens seguidos por suas respectivas personalidades, reservando a maior parte do tempo para o desenvolvimento da trama, algo necessário devido a complexidade dos fatos que se desenrolam.  

E mesmo com um elenco numeroso, algo que pode gerar confusão em tela, o diretor equilibra bem o tempo de cada um, fazendo cada personagem brilhar quando necessário, e a mestria com que o diretor faz isso é o que não deixa o longa confuso ou até mesmo acelerado demais, o que resultaria em algo desiquilibrado tornando a compreensão para o público um desafio e tanto.  

E em meio à todos, o destaque dessa vez fica para Daniel Craig, o ator se mostra muito mais a vontade na pele do detetive Benoit Blanc, o que nos garante ótimos momentos em que o riso é incontrolável, em paralelo a rápidos momentos de tensão, provando a versatilidade de Craig que traz um personagem complexo, metódico e extremamente carismático, caindo facilmente nas graças do público. Esse destaque também é dividido com Janelle Monáe, que mesmo sua personagem contando com poucos diálogos, até certo ponto do longa ela consegue extrair muito do pouco, seja através de gestos ou olhares sutis, empregando todo um mistério em torno de sua personagem, detalhe que torna a virada de roteiro ainda mais expressiva. 

Se no longa de 2019 o diretor se contenta com o mistério do assassinato, e através disso traz uma trama envolvente e por vezes tensa, aqui Rian expande para duas linhas narrativas, trazendo uma dinâmica ainda mais complexa para o longa, e jogando em tela assuntos que permearam a vida e a realidade de todos que assistem, tornando, por mais que pareça absurdo, o que vemos em tela, um retrato fiel da atual realidade.  

Então aqui, ainda no primeiro ato o diretor traz inúmeras sequências que parecem fora de contexto ou óbvias demais, o mesmo faz isso afim de iludir o espectador e levá-lo a acreditar estar diante de mais um clichê, porém o que ele faz na verdade é embaralhar as peças do jogo, trabalhando o suspense, guiando o público através da zona de conforto.  

Assim no momento de virada do roteiro em que o diretor subverte todas as expectativas, a narrativa que parecia óbvia e calma ganha uma nova dinâmica, com um ritmo acelerado em que cada ação dos personagens ganham outro significado.  

Em meio à isso tudo o diretor ainda traz uma crítica direta ao comportamento de alguns durante a pandemia, e faz isso de maneira simples, apenas fazendo a trama se passar durante a mesma, com isso seus famigerados personagens extravagantes caíram como uma luva na representação daqueles que pouco, ou quase nada, se importavam com a situação do mundo e/ou do próximo. 

 A alusão ainda se expande quando através de outro personagem o longa representa um grupo de pessoas vazias que se pintam como exemplos de vida, seja por estampar a capa de uma revista, ou no papo motivacional a respeito de como construir fortunas, ocultando, obviamente, as inúmeras pessoas que foram pisadas ou usadas em prol disso, resumindo o personagem de Norton a representação da podridão que permeia a elite dos bilionários

O diretor ainda se mostra corajoso ao trazer um mistério em que o detetive Blanc não atua como salvador-mor, resultando em um crime parcialmente resolvido por ele, pois a personagem de Monáe também teve papel fundamental para a resolução do caso, um acerto por parte do diretor, pois é um detalhe que humaniza o personagem de Craig, pois caso contrario seria facilmente colocado no medíocre hall que comanda o cenário atual, o dos super heróis, um subgênero saturado em que a ultima coisa que precisa é de mais um integrante. 

Se antes a trama tinha como base narrativa a representação da “família perfeita”, aqui o recado é mais global, atingindo direta ou indiretamente à todos, e isso tudo sem perder o timing cômico ou a trama minuciosamente elaborada e dinâmica, detalhe que torna o trabalho de Johnson incrível e diferenciado.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0

Direção: Rian Johnson

Elenco: Daniel Craig, Edward Norton, Kate Hudson, Dave Bautista, Janelle Monáe, Kathryn Hahn, Leslie Odom Jr., Madelyn Cline

Duração: 2h 19m

Roteiro: Rian Johnson

Fotografia: Steve Yedlin

Trilha sonora: Nathan Johnson

Ano: 2022