Triângulo da Tristeza
Alguns fatos ou eventos que presenciamos nos dias de hoje, por vezes são tão inacreditáveis que beiram o absurdo, em sua maioria da alta sociedade. Histórias de sucesso que geralmente ocultam o lado podre de suas personalidades, ou uma crença calcada na auto-ilusão de que estão fazendo um bem para a humanidade, faz com que deitem em seus travesseiros a noite com a consciência leve.
A premissa é certeira ao iniciar em meio à um processo seletivo de modelos, detalhe que precede uma narrativa em que o mundo de aparências será o foco, seguido pelo encontro do casal burguês e superficial em que tudo entra em pauta, exceto o relacionamento dos mesmos, de fachada, pois é mais vazio que suas cabeças, em que o que realmente importa são os likes.
A direção atribui ao longa uma montagem por vezes confusa, repleta de cortes abruptos, porém é algo que aqui é funcional, pois referencia o caos visual que o longa busca, especificamente na sequência envolvendo o navio, em que o absurdo hilário toma conta.
O personagem Dimitry (Zlatko Buric), ou o vendedor de merda, mais direto que isso impossível, é um dos que ganha mais espaço, talvez por tamanha representatividade do mesmo. E isso tudo é feito através de uma narrativa dominada pelo humor ácido, em que o riso se mistura com a vergonha alheia devido a ciência de saber estarmos diante de algo que, apesar de tudo, é assustadoramente real.
O casal bélico de idosos além de representar o mercado podre de armas que dominou o mundo, revela a ignorância daqueles que constroem algo que da fim a vida do próximo, ou são usadas para ditar regras, e ainda assim acreditam estar fazendo algo em prol da democracia. Por isso a sequência que precede o naufrágio do navio, além de hilária, alude a como o público pensante realmente os enxerga, engasgados com suas asneiras e vomitando toda sua podridão.
Por fim toda riqueza que eles tanto ostentam é posta à prova, e até mesmo o regime capitalista que eles tanto defendem, quando a situação é contrária não parece tão agradável assim. Um longa em que comédia e absurdo se misturam para divertir, e assustar, devido tamanha semelhança com uma realidade tão superficial.
Crítica por: Filipe R. Bichoff
Título: Triângulo da Tristeza
Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0
Direção: Ruben Östlund
Elenco: Harris Dickinson, Charlbi Dean, Dolly De Leon, Vicki Berlin, Alicia Eriksson, Woody Harrelson, Zlatko Buric
Duração: 2h 27m
Roteiro: Ruben Östlund
Fotografia: Fredrik Wenzel
Trilha sonora: Mikkel Maltha
Ano: 2022