Os Banshees de Inisherin

Os Banshees de Inisherin

4 de março de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

O que é um relacionamento, seja ele amoroso ou de amizade, se não uma troca entre duas pessoas divergentes, que por algum motivo desenvolvem uma boa relação? No entanto, quando a soberba ou o egocentrismo entra em cena, uma guerra pode surgir de um mínimo detalhe, como uma discussão bêbado, algo com pouca importância, ou até mesmo um acontecimento inexplicável de uma das partes.

Os banshees de inisherin parte de uma premissa curiosa, tão eficiente que permite que a direção desenvolva toda a trama à partir da mesma e sustente toda a trama sob tal, levando em conta a curiosidade do publico que assim como um dos protagonistas, se vê perdido por não saber o motivo pelo qual foi abandonado pelo amigo de longa data de forma tão contundente.

A narrativa mais lenta conduz o espectador na busca por respostas através de um personagem complexo, Pádric, resultado de um trabalho incrível de Farrel que consegue incluir traços caricatos em seu personagem sem parecer ridículo, pois tais traços são atribuídos a personalidade irreverente do personagem que por vezes soa inconveniente, que apesar de não ser proposital acaba por incomodar algumas pessoas a sua volta. 

Assim tal lentidão narrativa é conduzida por uma trilha sonora melodramática, que traz um pesar maior à trama, o que cria um paralelo que se mantem durante todo o longa, a alternância entre o riso e as prováveis lagrimas, causadas por determinados momentos, seja em prol do amor de Pádric a seu amigo, ou ao seu burrinho de estimação. 

A briga, sem motivo aparente dos protagonistas, faz um paralelo sutil para com a guerra civil Irlandesa de 1923, que acontece perto dali,  em que um dos lados não contente com o resultado dos votos se rebelou, colocando o povo um contra o outro em prol de algo que poucos sabiam o motivo, pois estavam apenas vendo o outro como inimigo. 

Ainda assim a direção é cautelosa ao ponto de não criar vilões, permitindo ao público decidir qual lado escolher, colocando em xeque ambas as partes em determinados momentos, em um, ressaltando o ego inflado de Colm (Brendan Gleeson), em contrapartida à ignorância de Pádraic, que na tentativa de concertar as coisas ofende ainda mais o amigo. 

O longa alude diretamente a um dos motivos que divide o mundo atual, de um lado o amante de arte e da cultura, do outro alguém que não compreende tais riquezas, porém que tinham uma boa relação, rompida abruptamente. O que Leva o personagem de Farrel a se entender melhor com o inconveniente Dominic (Barry), que a proposito faz um ótimo trabalho na construção de seu personagem, sendo quase uma versão caricata de Pádraic, que ele próprio não percebe. 

E assim como um Guerra civil, que surge de repente, também termina, porém ambos os lados saem perdedores, na maioria das vezes sem nem mesmo saber os motivos põem fim em uma relação de anos, restando apenas o pesar, e cada um seguindo seu caminho.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Os Banshees de Inisherin

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0

Direção: Martin McDonagh

Elenco: Colin Farrell, Brendan Gleeson, Kerry Condon, Pat Shortt, Barry Keoghan

Duração: 1h 54m

Roteiro: Martin McDonagh

Fotografia: Ben Davis

Trilha sonora: Carter Burwell

Ano: 2022