Batem à Porta

Batem à Porta

4 de fevereiro de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

Podemos dizer que Shyamalan está de volta em sua zona de conforto, se seu último trabalho, Tempo (2021), o diretor causava comoção através do choque, aqui com uma proposta mais simples e um elenco reduzido, o diretor extrai o máximo que pode dessa adaptação, levando o público ao extremo em vários momentos da maneira menos gráfica possível.

O longa não perde tempo, sua trama já começa a se desenvolver nos primeiros segundos de duração, e é o momento em que o diretor define o tom do longa, através de um diálogo assustador e indutivo, pois através do posicionamento de câmera o diretor coloca Leonard (Bautista), como uma ameaça ainda maior, com um plano fechado cada vez mais próximo sugerindo um ataque abrupto a qualquer momento, diante da indefesa Wen (Kristen Cui).  

A trama se desenvolve de maneira completa de dentro da cabana, e é ali que o diretor se diverte, com momentos que vão da tensão ao alívio momentâneo, o diretor desenvolve o suspense de modo admirável, na maioria das vezes guiando o público pelo caminho contrario, para dessa forma manter o mesmo sob alerta, tenso, pois a qualquer momento o pior pode acontecer, algo que a trilha sonora sombria também corrobora de maneira muito participativa. 

O elenco eficiente torna tudo crível, o casal de protagonistas Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Bem Aldridge), funciona, e a garotinha faz o suficiente. No lado dos vilões, se é que podemos chamar assim, Dave bautista se encaixa perfeitamente no personagem, ludibriando personagens e espectador constantemente, assustando pelo tamanho e acalmando através de diálogos respeitosos e calmos, advindos de um roteiro eficiente.

Um artifício usado pelo próprio diretor, que induz o espectador a todo momento, levando o público a pensar estar diante de uma representação de, fanáticos religiosos, loucos, serial killers ou conservadores preconceituosos. São pontos que mesmo não sendo desenvolvidos, devido às circunstâncias, o diretor cita rapidamente como uma forma de chamar atenção e estruturar o plot, sob o porque aquele casal foi “escolhido”, detalhe que remete diretamente a passagens bíblicas que por motivo de spoiler não devo me aprofundar. 

Assim após vários momentos e principalmente diálogos de tirar o fôlego, o diretor subverte todas as expectativas, não só por não trazer um grande plot, sua marca registrada, mas por fugir de todos os clichês do gênero, sendo o principal deles invasão domiciliar, sendo a base narrativa, e manter o plot o tempo todo diante dos olhos do espectador, ressignificando toda a trama após a confirmação.  

Por fim, o único detalhe é o encerramento, que acaba por parecer destoar do todo, devido a sensação de vazio que o mesmo traz, dando a entender que a direção está perdida, porém é exatamente esse o sentimento dos personagens naquele momento, sentimento esse que é transferido para o público, tamanha as consequências que os atos naquela cabana trouxeram.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Batem à Porta

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️ / 7,0

Direção: M. Night Shyamalan

Elenco: Jonathan Groff, Ben Aldridge, Dave Bautista, Nikki Amuka-Bird, Rupert Grint, Abby Quinn, Kristen Cui

Duração: 1h 40m

Roteiro: M. Night Shyamalan, Steve Desmond

Fotografia: Jarin Blaschke, Lowell A. Meyer

Trilha sonora: Herdís Stefánsdóttir

Ano: 2023