Nada de Novo no Front

Nada de Novo no Front

29 de janeiro de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

Diferente do seu título, Nada de novo no front, o longa trás sim um ponto de vista que diverge da maioria. Em meio à inúmeros filmes que pintam heróis ou atos dos mesmos e acabam por vender uma imagem glamourizando a guerra, um detalhe que o longa em questão tem ciência e faz uso, quando movidos por uma empolgação ilusória um grupo de amigos se coloca no front da primeira guerra mundial.

Em sua premissa apesar de a princípio não trazer novidades, a câmera mergulha para imergir o espectador em meio ao caos, que ainda sem protagonismo expõe o tom da narrativa, brutal e tensa, termos que definem com perfeição a trama do longa, em que a batalha é sua base narrativa, por isso pouco ou quase nada se sabe a respeito do protagonista Paul (Felix Kammerer), e o desenvolvimento do personagem é a partir do campo de batalha com seus companheiros de guerra, e eainda sim o vinculo com o espectador é imediato, graças ao trabalho do ator e o tom melancólico estampado em seu personagem. 

Tal introdução também tem como objetivo expor o quão descartáveis são aqueles homens, que tem seus corpos enterrados de qualquer forma e seus uniformes passados a diante, quase como uma maldição, que traz consigo as marcas de seu antigo dono, por vezes até o nome.  

O longa traz o ponto de vista alemão diante da guerra, expondo que entre a frieza de uns existem pessoas comuns, que motivados por um discurso pífio lutam por um patriotismo implantado em suas mentes, despertando de tal alucinação quando já é tarde demais, e não há choro ou grito por socorro que possam salva-los, restando apenas um destino incerto.   

A narrativa é pontuada por momentos de tensão e calmaria, momentos em que a direção usa para aproximar o espectador do protagonista e seus amigos, que mesmo descartáveis criam um breve vínculo com o público, isso graças a humanidade que o longa expõe de cada um ali, em que o maior ato de admiração entre os mesmos passa a ser aquele que em um momento de desespero rouba um ganso para saciar a fome de todos, e não aquele que mais mortes carrega nas costas. 

Um dos principais acertos do longa está na não glamourização da guerra, ou em uma tentativa clichê de criar um herói de armadura reluzente. O longa expõe o campo de batalha como deve ser, frio, sem vida, detalhes que fotografia imprime com maestria, as mortes são abruptas e sem poses de herói, ou um plano que enalteça tal situação, são escolhas que além de tudo mantem a narrativa mergulhada em um clima tenso pois cada passo pode ser fatal e repentino, como o tiro que acerta o capacete de Paul após uma ilusão de segurança criada por parte da direção. 

A trilha sonora marcante se faz presente a todo momento, seja em batalha ou nos discursos dos superiores, detalhe que lembra o espectador que enquanto ali existe uma briga de egos, há alguns quilômetros homens dão a vida por algo que sequer são informados, e suas vidas estão na ponta de uma caneta. 

O longa conta com algumas conveniências no roteiro, mas que não chegam ao ponto de causar incômodo, podendo-se levar em consideração que sobreviventes de uma guerra necessitam de uma pouco de sorte também, pois em meio a chuva de balas e milhares de explosões, estar no momento certo no lugar certo pode ser crucial sobre quem vive e quem morre.  

Um retrato íntimo, brutal e comovente, são fatores que definem o longa, sem espaço para empolgação ou algo semelhante, a direção consegue passar para o público o peso dramático necessário para expor as dores de uma guerra e nada além disso, pois um lugar onde milhões de vidas são ceifadas, em sua maioria muito jovens, não há melhor forma de expor tal situação que não seja sob um viés em que a trama siga o caminho menos empolgante e mais triste.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Nada de Novo no Front

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0

Direção: Edward Berger

Elenco: Felix Kammerer, Albrecht Schuch, Aaron Hilmer, Moritz Klaus, Adrian Grünewald, Daniel Brühl

Duração: 2h 28m

Roteiro: Edward Berger, Lesley Paterson, Ian Stokell

Fotografia: James Friend

Trilha sonora: Volker Bertelmann

Ano: 2022