Watcher

A sensação de estar sendo observado ou perseguido já causa desconforto por si só, e infelizmente as que mais sofrem com esse tipo de assédio são as mulheres. E isso pode acontecer em qualquer ambiente, então o longa usa dos mais diversos elementos do terror para criar um suspense psicológico que se distancia o máximo que pode dos clichês do gênero, e volta todas as forças para a tensão.

A premissa tenta ser o mais simples possível, um casal que se muda para um país novo, Julia (Maika) e Francis(Glusman), onde a esposa pouca, ou quase nenhuma familiaridade tem com o lugar, algo que já causa um desconforto de imediato, pois já antecipa uma das dificuldades que a personagem irá enfrentar.

E ciente disso a direção utiliza da introdução para expor tais dificuldades da protagonista perante o desconhecido, seja a língua que ela não domina, ou o fato de passar a maior parte do tempo sozinha e exposta diante de uma grande janela, sob a visão de vários estranhos, até que um lhe chama a atenção.

São elementos que serão de grande importância no decorrer da trama, e artifícios cruciais no desenvolvimento do suspense, e a diretora Chloe Okuno usa todos eles com maestria, afim de desenvolver gradativamente a tensão.

O vizinho suspeito da as caras logo no início, em uma sequência breve, refletindo a pouca importância dada pela protagonista, porém que já antecipa o porvir para o espectador, mas sem nunca confirmar a natureza do homem, se é um psicopata ou apenas um curioso.

E esse é um longa em que a maneira como foi filmado faz toda a diferença, a exemplo disso temos a sequência em que Julia (Maika Monroe), caminha pela rua, e o plano com o fundo fora de foco cria uma tensão iminente diante de qualquer um que se aproxime da personagem, e a trilha sonora crescente induz o espectador a acreditar que o risco é real.

A direção usa ainda mais da linguagem cinematográfica em prol da narrativa, a sequência do cinema mesmo, a protagonista é colocada em primeiro plano e o rosto do suspeito é mantido fora de foco, e ao se aproximar a sonoplastia tem papel fundamental, o som do couro da poltrona indica a movimentação do suspeito, algo que é suficiente para sugerir o risco.

O vilão é posto perante o público sempre em cheque, por vezes um inocente vizinho, por outra carrega uma sacola com conteúdo suspeito, e um diálogo sugestivo garante um dos momentos mais tensos do longa, me refiro a sequência do metrô. E Maika juntamente com Burn Gorman, sustentam o suspense em níveis altíssimos, Maika por enfatizar a fragilidade de sua personagem, sempre introspectiva, já Gorman transmite uma frieza inquietante, o que leva o público a temer sempre que o personagem está em tela.

A direção ainda tem a sutileza em aludir constantemente à condição da personagem, e faz isso através dos planos, colocando a protagonista sempre em ângulos que dê a sensação de que ela está através de uma janela, ou tela, fazendo do espectador um stalker induzido, e testemunha de todo o drama da protagonista, porém de mãos atadas.

Fora ser perseguida por um stalker, a protagonista ainda precisa enfrentar um outro vilão, o machismo, seja por parte de amigos ou do próprio companheiro, aludindo à forma como as mulheres são tratadas ao expor alguma preocupação ou algo que incomode. E a direção é certeira ao descartar qualquer tipo de salvador para a possível donzela indefesa, assim a personagem se faz forte quando necessário.

O longa como um todo usa da sugestão para construir o suspense em torno da protagonista, e também na cabeça do espectador, garantindo momentos de tensão de tirar o fôlego sem apelar um momento sequer para os clichês comuns do gênero, o que resulta em um longa tenso onde o suspense é gradativo, chegando ao ápice nos momentos finais.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

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Título: Watcher

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0

Direção: Chloe Okuno

Elenco: Maika Monroe, Karl Glusman, Burn Gorman,

Duração: 1h 31m

Roteiro: Zack Ford, Chloe Okuno

Fotografia: Benjamin Kirk Nielsen

Trilha sonora: Nathan Halpern

Ano: 2022