Speak No Evil

Speak No Evil

8 de dezembro de 2022 0 Por Filipe R. Bichoff

Existem várias formas de trabalhar o terror no cinema, mas particularmente acredito que a mais interessante seja o terror psicológico. Justamente por fugir da mesmice, driblar todos os clichês do gênero, e na maioria das vezes causar uma tensão absurda através de um simples diálogo, geralmente ponto forte em longas com essa proposta, pois quase sempre sua força está no texto.

E em Speak No Evil, temos o terror psicológico em sua melhor forma, em que a direção constrói a tensão através do incômodo, sendo essa a palavra que melhor define o longa, incômodo. Partindo da premissa e se fazendo presente durante toda a trama, o elemento é presença constante, seja através da trilha, ou de um diálogo.

Assim, entre idas e vindas a direção tenta a todo momento causar desconforto no espectador, provando que o terror pode estar nos lugares que menos se espera, inclusive naquela família extremamente hospitaleira em que a direção faz questão de deixar pistas sobre sua verdadeira natureza, por vezes com olhares indiscretos ou na maneira violenta de lidar com algumas atitudes do filho.

Usada com eficiência, a trilha sonora também é um artifício para subverter expectativas, sendo o oposto do que vemos em tela, insinuando algo fora do comum, deslocado, se tornando um dos pontos positivos e de destaque do longa.

Assim quando às famílias enfim se conhecem o clima de tensão toma conta da narrativa, então a direção usa disso para iludir o espectador em alguns momentos, aproveitando para incluir um ou outro alívio cômico, que funcionam graças ao ótimo trabalho do ator Morten Burian, que vive Bjørn, seu personagem parece estar sempre desconfortável, o que é esclarecido através de um diálogo que acontece no carro entre Bjørn e Patrick (Fedja van Huêt), que é outro show do ator.

E o alívio cômico por vezes gera no espectador um riso involuntário, constrangido, pois a dualidade da sequência causa essa confusão na cabeça do público. Um exemplo disso é a sequência onde as crianças dançam na sala, em que a princípio a sequência parece leve e engraçada, porém o tom vai mudando e a sensação de incômodo dos personagens passa a ser a mesma do público.

A opção da direção é por uma narrativa tensa e um ritmo mais lento, porém que evolui gradativamente, levando o espectador ao limite, que tenta prever a virada no roteiro que não acontece, deixando a dúvida no ar, até o momento exato.

O longa conta com alguns momentos facilitados pelo texto, afim de fazer a trama caminhar, porém sem nunca revelar demais, as revelações só acontecem quando são necessárias, e mesmo já sendo esperadas o choque causado pela mesma é desesperador, tamanho o risco iminente que os personagens se encontram.

Speak no Evil incomoda e perturba, e faz isso durante todo o longa, o espectador mais visceral pode se frustrar, porém se tiver paciência pode desfrutar de uma experiência aterrorizante, e que culmina em algo devastador, algo que irá reverberar na mente do espectador por um bom tempo, mesmo após o encerramento do longa.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Speak No Evil

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0

Direção: Christian Tafdrup

Elenco: Morten Burian, Sidsel Siem Koch, Fedja van Huêt, Karina Smulders, Liva Forsberg, Marius Damslev

Duração: 1h 37m

Roteiro: Christian Tafdrup, Mads Tafdrup

Fotografia: Erik Molberg Hansen

Trilha sonora: Sune Kølster

Ano: 2022