O Enfermeiro da Noite

O Enfermeiro da Noite

10 de novembro de 2022 0 Por Filipe R. Bichoff

Quase que o disfarce perfeito para um assassino em série, alguém que devido à profissão envolver cuidar do próximo, automaticamente o deixaria acima de qualquer suspeita, um enfermeiro. Podendo agir sem deixar marcas ou digitais, ceifando a vida de inúmeras pessoas que apenas tiveram o azar de cruzar seu caminho.

Apesar do longa tratar da história de Charles Cullen (Eddie Redmayne), a direção opta por uma coprotagonista, Amy (Jessica Chastain), criando assim um contraste gritante para com o vilão em vários sentidos, como frieza e compaixão, afeto e desprezo, sentimentos que são a base dessa profissão admirável.

A escolha da direção em optar pelo drama e não algo mais visceral, que pudesse tornar o longa um suspense ou até mesmo um terror, apesar da história ser aterrorizante, da ao longa um narrativa pesada, uma ambientação incômoda, fazendo o espectador mais imersivo se sentir quase um cúmplice dos ator repulsivos de Charles, especificamente pelo espectador ser capaz de antecipar seus atos por estar ciente do caráter do personagem.

A fotografia dessaturada e acinzentada, enfatizada na presença de Charles, reflete sua forma fria de tratar tudo a sua volta, mesmo que seus atos pareçam dizer o contrário, o olhar de prazer que o ator atribui ao personagem não esconde a satisfação em cometer tais atrocidades.

Em contraste à isso a personagem de Jessica Chastain tem papel fundamental para ir na contramão de Charles, a atenção da atriz aos detalhes, um gesto de carinho, mostra a essência da profissão, algo que não existe em seu parceiro. A personagem também tem a função de representar o espectador em tela, em especial após a grande descoberta, criando um mix de desespero com o desejo de fazer justiça.

Outro detalhe é o diretor ocultar os atos de Charles, ele até faz um paralelo aqui ou ali, mas nada muito explícito, o que traz um peso dramático ainda maior para o confronto de Charlie e Amy, pois o espectador também quer a certeza, ouvir da boca do personagem o porque de tudo aquilo, isso traz a trama um tom de mistério que permeia toda a narrativa.

Afim de apontar Charlie como causador das mortes, a direção apenas sugere, às vezes de maneira nada sutil, como durante a sequência em que um paciente vem a óbito e a trilha sonora tensa marca presença e a câmera se aproxima lentamente do personagem que está de canto, com a feição de dor mas um olhar de satisfação, criando nuances assustadoras e que mostram o empenho de Redmayne.

São detalhes pequenos porém resultados de um trabalho incrível de Eddie, detalhes como um tique que ao ser questionado e se sentir acuado meche nos cabelos e aos poucos perde o controle, criando algumas das sequências mais tensas do longa, pois mostra como o personagem pode ser imprevisível e extremamente perigoso.

Algo geralmente menosprezado em longas do gênero, merece um adendo, pois aqui fazem a diferença, o trabalho policial. Os personagens de Nnamdi Asomugha e Noah Emmerich, tem papel importante na trama, e não são deixados de lado ou totalmente ignorados, para facilitar o desenvolvimento da trama sem maiores dificuldades.

Inclusive aqui a força policial enfrenta um desafio e tanto, ao ponto de ter seu trabalho dificultado por outro ponto que o longa chama a atenção, a forma como um concelho de direção de um hospital pode ser usado para o mal, devido os próprios profissionais se acobertarem para evitar qualquer mancha na imagem dos mesmos e no nome do hospital. Foram detalhes que facilitaram e muito os atos cruéis de Charles.

O enfermeiro da noite prova que não é necessário sangue ou vísceras para contar a história de um assassino em série, ao invés disso um roteiro com bons diálogos e um elenco competente se provam muito mais eficientes, e resultam em algo difícil de acompanhar, tamanha crueldade e impunidade que acompanhou o personagem por tanto tempo.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: O Enfermeiro da Noite

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0

Direção: Tobias Lindholm

Elenco: Eddie Redmayne, Jessica Chastain, Nnamdi Asomugha, Noah Emmerich

Duração: 2h 1m

Roteiro: Krysty Wilson-Cairns

Fotografia: Jody Lee Lipes

Trilha sonora: Biosphere

Ano: 2022