Fresh

Fresh

25 de setembro de 2022 0 Por Filipe R. Bichoff

Peculiar talvez seja a palavra que melhor define “Fresh”. Como um todo o longa é um suspense, porém no decorrer da trama adiciona pitadas de terror, comédia, mesmo que por vezes mais ácida, e a direção é extremamente perspicaz ao trabalhar na construção da narrativa sem perder a credibilidade, ou descaracterizar a construção do suspense.

A subversão que parte da premissa, e a longa introdução da trama, é certeira, criando um ambiente que faça com que o espectador seja conduzido, assim como a protagonista, pelo até então bom rapaz Steve (Sebastian Stan), criando uma personalidade agradável e que se encaixe nos requisitos de Noa (Daisy Edgar-Jones), algo comum no mundo real.

E essa introdução remete de maneira proposital a uma comédia romântica, com um clima leve e receptivo, características que aludem a personalidade do algoz Steve, onde em momento algum a direção da algum indício de suas reais intenções, o que torna o mesmo ainda mais assustador pois provavelmente irá se revelar a qualquer momento, e ainda assim quando esse momento chega não é feito de forma abrupta, pois não condiz com o personagem.

A direção não tem pressa, então conduz a narrativa de maneira mais calma, o que mesmo após a virada no roteiro o ritmo se mantém, refletindo a frieza do vilão, e a partir daí que trama e personagens ganham profundidade e a tensão toma conta da narrativa.

Tensão essa que em grande parte é responsabilidade de Stan, que da vida a um personagem complexo, com nuances dignas de um autêntico psicopata, conseguindo fazer o espectador amá-lo e odiá-lo na mesma intensidade, características típicas desse tipo de pessoa, habilidosas em influenciar todos a sua volta e geralmente conseguem o que querem.

Desde que passa a ficar encarcerada a protagonista tem a companhia de outras mulheres, vítimas de Steve, onde mesmo sem se ver elas começam a criar um vínculo, se unindo e dando forças umas as outras, mesmo que a distância, e a direção é certeira ao não exibir as outras vítimas, ao menos a princípio, levando o espectador a criar na mente a imagem sofrida da personagem.

Apos a revelação do destino das vítimas, o espectador passa a acompanhar a rotina do vilão e dos compradores, é onde entra a sonoplastia, que tem papel fundamental na percepção do espectador, nesse caso em específico talvez cause um efeito maior que as imagens, causando repulsa ao som de talheres e mastigação, algo que se repete várias vezes, seguidos pelo prazer estampado no rosto do vilão, é algo realmente arrepiante.

Isso tudo sob uma narrativa constantemente tensa, pois a cada contato do vilão com a protagonista o público teme pela vida da personagem, mesmo depois que ela se da conta do seu “poder”, o risco segue iminente.

O longa alude diretamente ao machismo, e a forma como parte dos homens tratam as mulheres, como pedaços de carne, na trama isso é mais literal afim de causar reflexão, e todo a trabalho da direção em tornar as ações do vilão repulsivas, e mostrando como o mesmo se sente superior, alude em como as mulheres são tratadas na maioria das vezes perante a sociedade por homens com caráter duvidoso.

Outro detalhe que vale ressaltar é o momento em que a direção brinca com o espectador, supondo a chegada de um “salvador”, algo dispensável, tendo em vista tudo que as personagens enfrentaram, e se aquilo realmente se concretizasse seria um tiro no pé, desmerecendo toda a luta das personagens.

Já no fim do terceiro ato, após a luta pela sobrevivência e fuga do cárcere, a mensagem é clara, já que o sucesso na fuga só foi possível graças a união entre as vítimas, mostrando que juntas são mais fortes e só assim será possível evitar que a próxima vítima exista.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Fresh

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️

Direção: Mimi Cave

Elenco: Daisy Edgar-Jones, Sebastian Stan, Jojo T. Gibbs, Andrea Bang, Dayo Okeniyi

Duração: 1h 54m

Roteiro: Lauryn Kahn

Fotografia: Pawel Pogorzelski

Trilha sonora: Alex Somers

Ano: 2022