Corpo Fechado

Corpo Fechado

25 de setembro de 2022 0 Por Filipe R. Bichoff

No cinema o maior desafio no subgênero de heróis sempre foi, e segue sendo, adaptar algo da maneira mais realista possível, trazendo aqueles heróis dos quadrinhos para o mundo real de forma coesa, e de preferência o mais natural possível, porém a história mostra que isso aconteceu pouquíssimas vezes, e o filme em questão é uma, dentre essas raras exceções.

Para provar sua versatilidade o diretor M. Night Shyamalan sai um pouco do suspense, apesar de manter alguns elementos, e cria seu próprio universo de heróis, em uma trama envolvente e dominada pelo mistério, e a dúvida constante de que se estamos diante de um herói, ou alguém comum com muita sorte?.

Se colocando o mais distante possível dos blockbusters que em que tudo precisam ser grandiosos, o diretor apresenta em uma premissa na medida certa o ritmo narrativo que veremos no decorrer da trama, apenas através de um diálogo e uma câmera bem posicionada, colocando o protagonista, o pacato David Dunn (Bruce Willis), assistido pela garotinha na cadeira da frente, e encerrando antes da catástrofe.

O longa tem um ritmo agradável, onde o diretor tem o tempo necessário para se atentar a cada detalhe. Com isso desenvolve a trama e personagens sem pressa, situando o espectador daquele universo, de maneira gradativa.

O diretor se atenta a todo momento ao enquadramento, aludindo aos quadrinhos de uma HQ, e alternando quando necessário, como a câmera próxima e trêmula que por vezes acompanha o personagem Elijah (Samuel L. Jackson), simulando o mundo instável que o personagem vive, onde cada passo pode ser um risco ao seu bem estar.

No decorrer do longa o mistério em torno do protagonista é o que mantém o espectador apreensivo, pois a direção tenta ao máximo não deixar claro se o que o espectador está presenciando trata-se de um super herói ou um homem comum, colocando o espectador em alguns momentos na pele do filho de Dunn Joseph (Spencer Treat Clark), que se empolga com a possibilidade mas quer a certeza.

E isso torna cada sequência de risco extremamente tensa, como a da cozinha por exemplo, quando Joseph aponta a arma para o pai, a sequência é tensa por vários motivos, mas o principal é a dúvida, algo que o diretor mantém constantemente pairando no ar. São detalhes como esse que trazem o longa o mais próximo possível da realidade, onde até mesmo o protagonista leva tempo para acreditar em seu potencial, por não aceitar, ou acreditar ser apenas um instinto, suposição.

O longa conta também com um dos principais dramas dos super heróis, a vida à dois, sempre problemática. Onde a opção por abrir mão de seu dom o torna sem propósito, infeliz, algo que reflete em sua vida pessoal.

O vilão vivido por Samuel L. Jackson é tão bem desenvolvido quanto o protagonista, sendo seu oposto em tudo, até mesmo na atenção que o longa dedica a ele. Um personagem que tem todas as características de um arqui-inimigo, porém nunca é deixado claro pela direção, ele se aproxima do herói, tem papel importante em seu desenvolvimento e depois se vira contra o mesmo, revelando seu poder oculto, sua mente.

A trilha sonora é um show a parte, e enaltece ainda mais o surgimento do herói, ou a descoberta de seus poderes. O longa se mantém constante, o diretor não se deixa levar pela emoção ao ponto de entregar mais do mesmo, o que leva o longa à um final aberto e empolgante, culminando de maneira solida sem a necessidade de algo extravagante que fugiria à proposta.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Corpo Fechado

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️

Direção: M. Night Shyamalan

Elenco: Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Robin Wright, Spencer Treat Clark, Charlayne Woodard

Duração: 1h 46m

Roteiro: M. Night Shyamalan

Fotografia: Eduardo Serra

Trilha sonora: James Newton Howard

Ano: 2000