Não! Não Olhe!
Após dois trabalhos com uma repercussão considerável, sendo o primeiro deles (Corra! (2017), o mais aclamado, era óbvio que em qualquer coisa que o diretor Jordan Peele se envolvesse iria causar comoção. Então em seu novo trabalho o diretor busca novos caminhos, se antes seguia algo mais explícito, aqui o diretor opta pela sugestão, e aos enigmas, ao menos em boa parte da trama.
Afim de preparar o espectador para o que está por vir o diretor tenta chocar logo na premissa, e consegue, a sequência inicial com o chimpanzé Gordy é de arrepiar, e parcialmente inspirada na história real de Travis, um chimpanzé que em um momento de surto atacou violentamente uma amiga de sua dona. Esse vem a ser um dos momentos mais tensos do filme, e faz ligação direta com a maneira como o diretor irá conduzir a trama, enquadrando apenas o necessário, mantendo o resto no imaginário do espectador.
O diretor é extremamente consciente ao fazer isso, afim de impactar e instaurar o clima tenso que ira permear toda a narrativa, e ter tempo para trabalhar através de um ritmo narrativo que por vezes passa ser mais lento em boa parte da trama.
O ritmo lento não torna o longa arrastado, pois é ali onde o diretor desenvolve trama e personagens, criando toda uma atmosfera que além de tensa homenageia a origem do cinema, inúmeros filmes do gênero, e o suspense é construído de maneira minuciosa e crescente, afim de culminar em algo grandioso.
Talvez em uma tentativa de ser o mais detalhista possível o diretor se atente demais a detalhes técnicos, como fotografia, referências ou uma sequência grandiosa, algo comum quando um diretor se dispõe a assinar como produtor, diretor e roteirista, deixando a desejar em algum desses pontos. E com isso em determinados momentos a trama parece ser deixada de lado, apontando o deslize para a direção, abrindo espaço para personagens como o vendedor Angel Torres (Brandon Perea), que deveria exercer o papel de alívio cômico, porém não funciona, seu timing cômico não encaixa na trama, os protagonistas Keke e Kaluuya cumprem o necessário, tendo em vista que não existem grandes desafios para os mesmos.
Já quando o longa se dedica a algo “menor”, são os momentos mais satisfatórios do mesmo, como a sequência do celeiro, em que OJ (Daniel kaluuya), se depara com seres estranhos, ou até mesmo a incrível sequência da chuva de sangue onde a visão sob a perspectiva da personagem EM (Keke Palmer), no interior da casa, é aterrorizante, ambas pontos positivos de uma narrativa pontuada por altos e baixos.
Não poderia deixar de citar também a homenagem a origem do cinema, algo que alude diretamente a trama, onde o diretor exibe o curta “Cavalo em Movimento (1878)”, trabalho realizado por Eadweard Muybridge, onde através de liberdade artística Peele da nome ao desconhecido cavaleiro. O curta é algo que já prenunciava a exploração animal e desrespeito com os mesmos em prol do entretenimento humano, e que a sequência final do longa de Peele alude diretamente, sendo tudo uma grande filmagem e exploração da criatura, porém com OJ sabendo lidar com aquele animal fora de controle, com respeito.
Por fim, Peele na segunda metade do longa deixa de lado a sutileza e revela seu plot, que na verdade estamos diante de um filme de monstro e invasão alienígena. Peele consegue subverter as expectativas, mas não sem cometer alguns deslizes, a trilha sonora épica e os planos abertos grandiosos são belíssimos, porém funcionam apenas como espetáculo visual, que é agradável, mas apenas visualmente, ao menos fazem valer a experiência IMAX.
Crítica por: Filipe R. Bichoff
Título: Não! Não Olhe!
Avaliação: ⭐️⭐️⭐️
Direção: Jordan Peele
Elenco: Daniel Kaluuya, Keke Palmer, Steven Yeun, Brandon Perea
Duração: 2h 10m
Roteiro: Jordan Peele
Fotografia: Hoyte Van Hoytema
Trilha sonora: Michael Abels
Ano: 2022