A Órfã

A Órfã

15 de agosto de 2022 0 Por Filipe R. Bichoff

O terror/suspense quando envolve crianças é sempre mais chamativo, justamente pelo vínculo imediato criado com o espectador, até porque quem não se compadece com um pobre criança indefesa?. Mas ainda assim é algo que exige cuidado, cuidado para não extrapolar e causar repulsa, ou ser superficial demais ao ponto de não convencer.

E A Órfã acaba bebendo da fonte de cada um dos lados, se mantendo em uma linha tênue entre ambos, graças a um elenco infantil eficiente e uma protagonista talentosa, o longa passa tensão e um certo nível de incomodo em alguns momentos, pelo menos até a grande revelação.

E esse incômodo em certos momentos chega sim a causar repulsa, justamente por presenciarmos uma “criança” protagonizando atos tão maldosos. Mas isso é exatamente o que a direção busca, afim de trabalhar a tensão criando um certo clima de desconfiança e desconforto, seja por parte do público ou de alguns personagens. Assim a direção prepara o terreno para impactar da maneira mais chocante possível através do plot twist, algo para o qual toda a trama é voltada.

O elenco não conta com grandes atuações, exceto é claro a sempre talentosa Vera Farmiga e obviamente a protagonista Isabelle Fuhrman, o maior destaque do longa e grande responsável pelo sucesso do mesmo, não me recordo de outros trabalhos da atriz, ao menos não tão populares, mas nesse caso em específico ela é um arraso, transmitindo de maneira eficiente a instabilidade mental de sua personagem, seja através de olhares suspeitos ou de alguns deslizes na fala, deixando escapar por alguns momentos seu sotaque, o que da pistas de que aquela “criança” esconde algo.

O longa apesar de contar com bons momentos peca em outros, na tentativa de criar uma tensão ainda maior, a direção acaba por inflar a narrativa com diálogos pouco inspirados, na maioria das vezes envolvendo o casal principal, diálogos que a princípio fazem sentido, porém depois de tantas evidências sobre a natureza da “criança”, passam a ser forçados.

Em outros momentos a direção inclui à narrativa movimento de câmera vazios, supondo a presença de algo por perto apenas para incluir um jump scare dos mais baratos possível, servindo apenas como trapaça afim de iludir o espectador, e isso acontece repetidas vezes e em alguns momentos que não fazem o menor sentido, como quando uma personagem está na cozinha e a câmera sorrateira passa por trás da mesma, seguida pela trilha crescente que sugere a presença de alguém, porém a sequência culmina no vazio com o acorde alto da trilha, resultando em um jump scare ridículo.

Existem também algumas inconsistências de roteiro relacionadas a Esther, como os chiliques da personagem quando está sozinha, algo muito infantil se tratando uma adulta, talvez uma tentativa da direção de reforçar a dupla personalidade da personagem, mas isso é algo que já vinha sendo feito durante a trama de maneira eficiente, como os desenhos ocultos por exemplo, algo sutil mas que revela algo chocante.

São detalhes que a direção inclui afim de alongar ao máximo a trama, e grande parte do tempo funcionam, servindo como preparação para sequência reveladora, sendo esse o melhor momento do longa, onde a direção alterna entre o diálogo revelador e a personagem se “desmontado”, tornando a sequência extremamente chocante e assustadora ao mesmo tempo.

Para a trama caminhar a direção aposta no absurdo, em alguns momentos, e precisa levar o espectador a acreditar, que mesmo com todos os fatos concretos os personagens ainda continuam sendo enganados, e na maior parte do tempo é eficiente ao fazer isso, tornando os deslizes e trapaças esquecíveis quando enfim entrega um dos melhores plots do cinema.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: A Órfã

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️

Direção: Jaume Collet-Serra

Elenco: Isabelle Fuhrman, Vera Farmiga, Peter Sarsgaard, CCH Pounder, Jimmy Bennett, Aryana Engineer

Duração: 2h 03m

Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick, Alex Mace

Fotografia: Jeff Cutter

Trilha sonora: John Ottman

Ano: 2009