O Telefone Preto

O Telefone Preto

19 de julho de 2022 0 Por Filipe R. Bichoff

Algo que o diretor Scott Derrickson faz com muita eficiência é trabalhar o suspense, isso é inegável. O diretor equilibra a trama sob uma linha constantemente tensa, seja em casos mais aflorados com em “A Entidade (2012)”, onde o diretor trabalha mais através do terror explícito, visual, ou no caso do longa em questão, onde segue o caminho do terror psicológico, com um ou outro momento que destoa.

O que torna O Telefone Preto diferente dos demais longas do gênero, além da direção eficiente de Derrickson , é o desenvolvimento dos personagens, que no geral são apenas personagens descartáveis que terão seu fim de maneira superficial. Aqui o diretor dedica o tempo necessário para estabelecer a relação entre cada personagem, seja entre os irmãos, Finney (Mason Thames), e Gwen (Madeleine McGraw), sendo esse o principal fator dramático do longa, ou com o pai Terrence, vivido de maneira pouco inspirada por Jeremy Davies. Até mesmo a relação de amizade com amigos de escola, que apesar do pouco tempo dedicado as mesmas devido às condições, são bem estabelecidas, o que cria um vínculo imediato entre personagem e espectador.

A opção do diretor por uma fotografia dessaturada traz a narrativa o tom melancólico buscado pela direção, algo que condiz com os fatos que vemos em tela, que mesmo se tratando de um longa de suspense o drama tem papel fundamental no arco narrativo do protagonista, e apesar de alguns exageros por parte da direção funcionam como deveria.

O longa tem um ritmo narrativo mais lento, justamente para que cada detalhe tenha a devida atenção, isso pode incomodar um pouco aquele espectador mais pragmático, que busca por sustos aleatórios ou muito gore, ciente disso o diretor até inclui alguns momentos sangrentos na trama, porém são sequências dispensáveis, que estão ali apenas como apelo visual.

De modo geral o diretor não traz nada inovador, pelo contrário, recicla algumas fórmulas de seus trabalhos anteriores dando apenas um significado diferente, os flashbacks por exemplo, colocados como gravações antigas exibindo os jovens em momentos antes do sequestro, em um contexto histórico pode fazer sentido, mas narrativo não, refletindo apenas como uma reutilização do diretor de algo que deu certo antes, mas que aqui não condiz com a narrativa.

No elenco o destaque fica para o trio principal, o vilão de Hawke é mediano, cumpre o necessário, tendo seu potencial desperdiçado graças ao fim preguiçoso dado ao mesmo, algo que fugiu à tudo que tinha sido estabelecido a respeito do personagem, sua imponência e aura amedrontadora são simplesmente descartados, em prol de um final em benefício do protagonista e sua superação, ignorando o arco do vilão.

As sequências no porão tem bons momentos, outros o diretor se entrega a alguns jump scares, e inúmeras facilitações de roteiro que fazem parte de quase toda a sequência final, onde a suspensão da descrença é exigida ao máximo, afim de não estragar a experiência como um todo.

A trilha sonora é parte importante para a construção do suspense, mas a direção extrapola usando a mesma em excesso em determinados momentos, assim como o slow motion, que afim de enaltecer o drama é repetido ao “modo Snyder”.

A princípio a direção da a entender que a trama irá além da superfície, mas não, por fim O Telefone Preto é mais um que entra para a lista do diretor Scott Derrickson onde sua maneira de conduzir a trama é eficiente, porém o resultado é mediano, o longa cumpre a sua proposta mas deixa a desejar, já que seu potencial era notório.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: O Telefone Preto

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️

Direção: Scott Derrickson

Elenco: Ethan Hawke, Mason Thames, Madeleine McGraw, James Ransone, Jeremy Davies

Duração: 1h 42m

Roteiro: Scott Derrickson, C. Robert Cargill

Fotografia: Brett Jutkiewicz

Trilha sonora: Mark Korven

Ano: 2022