Águas Profundas

Águas Profundas

19 de março de 2022 0 Por Filipe R. Bichoff

Quando a proposta de um longa é seguir o gênero, suspense psicológico, o mínimo que se espera é uma trama envolvente, com reviravoltas de cair o queixo, ou pelo menos o mínimo de tensão. Mesmo sendo parcialmente um drama, isso não impede o longa de impactar seja com algo mais visceral ou íntimo, voltado para a melancolia.

O longa tem um início que já mostra que seu ritmo narrativo será no máximo morno, mas após a primeira meia hora de filme fica claro que além do ritmo arrastado a trama não tem nada de promissora, pois a direção faz o que pode para preencher as quase, e eternas, duas horas de filme.

Com um elenco em que apenas Ana de Armas, apesar de mediana, não aparenta estar no automático, os demais especialmente Ben Affleck sequer se esforçam, e Affleck entrega um personagem que consegue até aludir ao título do longa, raso. Algo que se completa com um roteiro vago, e uma trama que não emplaca, em momento algum.

O roteiro é repleto de diálogos fracos e que não levam a nada, em momentos o longa da a entender que os personagens tem um tipo de relacionamento aberto, em outros isso parece existir apenas na cabeça de Melinda (Armas), e essa inconsistência segue até o final, o longa se vende como um suspense erótico, mas de suspense passa longe, e erótico tão pouco.

A trama por ser carente de conteúdo implica em uma narrativa arrastada, e que constantemente tenta se valer de algo que não resulta em nada, como o personagem de Affleck se reservando em sua estufa onde cria caramujos, ou se deslocando de bicicleta a um galpão abandonado no meio da cidade, são elementos claramente usados para iludir o espectador de que a trama tem mais a oferecer do que parece.

A direção tenta constantemente induzir o espectador a suspeitar de Affleck, com piadas irônicas, acusações jogadas ao vento, ou planos fechados que enfatizam um gesto caricato. Ao tentar se fazer complexo o longa sequer escapa do óbvio e do clichê, entregando seu plot extremamente fraco antes mesmo do segundo ato, algo que torna todo o restante da projeção quase insuportável.

E para não encerrar mais vazio do que começou, o longa reserva seus únicos fatos para o fim do terceiro ato, mais especificamente os últimos trinta minutos, mas após um longa de quase duas horas, nada que o roteiro reserve vai surpreender o público, que com certeza vai desvendar o mistério que envolve a trama antes mesmo do segundo ato, chegando ao final do longa apenas torcendo para que o mesmo acabe de uma vez.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Águas Profundas

Avaliação: ⭐️

Direção: Adrian Lyne

Elenco: Ben Affleck; Ana de Armas; Tracy Letts; Rachel Blanchard; Lil Rel Howery

Duração: 1h 57m

Roteiro: Sam Levinson, Zach Helm

Fotografia: Eigil Bryld

Trilha sonora: Marco Beltrami

Ano: 2022