The Batman

The Batman

4 de março de 2022 0 Por Filipe R. Bichoff

De tantas versões que já vimos do homem morcego em nenhuma delas, apesar de tentar, vemos algo realmente verosímil do personagem. Sempre mirando o espetáculo visual, a trama ou personagens eram deixados de lado, em prol do bem maior, impressionar através de proezas não condizentes com a proposta, visto que o intuito era algo realista. E após tantas versões adaptadas do homem morcego era quase impossível imaginar algo novo sobre o herói, a não ser que a mente por trás do projeto fosse de alguém corajoso, alguém como Matt Reeves.

A trama se inicia com uma premissa digna de um bom filme de suspense, nos apresentando um vilão cruel e sorrateiro, deixando claro o tom mais sombrio que veremos no decorrer da trama. Após isso temos um Bruce Wayne traumatizado nos apresentando a uma Gothan City dominada pelo crime e a corrupção, algo que ele tenta corrigir. Durante boa parte do primeiro ato a narrativa é por vezes mais lenta, porém não arrastada, graças a um roteiro complexo a direção tem muito a desenvolver, seja nos apresentando os personagens ou desenvolvendo detalhes da trama, mantendo a atenção do espectador graças ao clima de mistério dominante em todo o longa.

A ideia da direção de uma fotografia envolta por sombras, para tornar o herói presente em toda parte, remete a algo aterrorizante, apresentada através de enquadramentos de cantos escuros em paralelo ao pavor no semblante dos vilões, onde apenas o “aviso” no céu torna cidade dominada pelo herói, tornando a sequência onde vemos “a vingança” em ação pela primeira vez algo impactante.

O Batman de Reeves é jovem, imaturo e inexperiente, e o modo como a direção nos comunica isso não é fazendo o personagem encher a cara em uma balada ou usar seu poder para estar rodeado por mulheres, mas sim colocando a si próprio em risco, sem pensar nas consequências, ou pior, não se importando com elas, pois sua vida se resume a vingar seus pais e sua cidade, e se ele morrer em prol disso será um alívio.

Algo presente no título e que faz todo sentido ao acompanharmos o longa, é que este é um filme “do Batman”, algo que realmente ainda não tinha sido feito, Bruce Wayne pouco aparece, e quando o faz o personagem parece incomodado, visto através de como a direção faz com que o personagem estranhe a luz, pois sua vida é noturna como Batman, em paralelo a isso temos a performance de Pattinson, entregando um Bruce que sem o traje, se sente deslocado, desprotegido, e isso é notado por pequenos gestos como desviar o olhar ou se encolher.

Em meio à trama envolta por mistério e charadas, temos lutas extremamente bem coreografadas e impactantes, tornando o herói brutal, e nos brindando com cenas de ação maravilhosas. Dentre elas temos a revelação do batmóvel, uma cena em que a experiência na sala de cinema faz toda a diferença, pois a ideia do longa é fazer o espectador sentir nem que seja parcialmente o medo dos vilões diante do ronco daquele motor, e a experiência cinematográfica traz uma imponência única para a cena, tornando toda a sequência maravilhosa.

Com tudo o que torna The Batman um diferencial é Matt Reeves, o diretor tem pulso firme e não se deixa levar pelo espetáculo visual, algo que resultaria em mais do mesmo, Reeves mantem a trama incisiva, e não sabota a si mesmo levando a trama para um rumo diferente do que foi apresentado até então. Assim o diretor nos apresenta o lado detetive do herói, muito pouco explorado nos cinemas, a inteligência do personagem, aqui não é vista apenas em conhecimento tático ou de artes marciais, mas sim através de temas complexos como anatomia ou investigação, e não exaltando sua situação financeira.

Além de Pattinson o longa conta com um elenco afiado, com destaque acima da média para o Charada de Paul Dano. Um vilão que foge da mesmice e vai muito além, a performance de Paul sobressai a máscara do vilão, onde seu trabalho corporal e vocal criam um vilão marcante e que em nada deixa devendo aos clássicos serial killers do cinema. Nos levando a outro ponto importante, o vilão sendo o oposto do herói, algo que já tinha sido apresentado em outros longas porém de maneira superficial, aqui o tema é tratado como ponto importante da trama dando significado aos atos do vilão, que desde a infância foi esquecido graças a Bruce Wayne, aludindo à realidade distinta enfrentada por cada um, com toda riqueza e holofotes da mídia se voltando para Bruce Wayne, o órfão rico, deixando os demais sem perspectiva.

A Mulher gato de Zoë Kravitz dispensa comentários, indo além de apenas o par romântico do mocinho, e fazendo realmente parte da trama, seja com um bom tempo de tela ou no combate físico onde ela se compara ao herói. Vale destacar também o trabalho do ator John Turturro, conhecido por seus personagens em filmes de comédia, em especial ao lado de Adam Sandler, aqui da um show, seu Falcone impõe medo e respeito através da calma, gestos suaves e uma confiança inabalável, fazendo o espectador sequer lembrar dos personagens bobos que ele está habituado a fazer.

Sem propósito, algo que ele só descobre no fim do terceiro ato, apenas fazendo justiça aos seus olhos, o Batman de Pattinson e Reeves se mostra um marco importante para a trajetória do herói nos cinemas, desgastado após a confusa passagem de Zack Snyder pela Warner, o personagem precisava de fôlego novo, e o que vemos aqui vai muito além disso e nos apresenta algo único, de um herói que merecia algo a sua altura, nada menos que grandioso.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: The Batman

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️

Direção: Matt Reeves

Elenco: Robert Pattinson; Jeffrey Wright; Zoë Kravitz; Paul Dano; Andy Serkis; Colin Farrell; John Turturro

Duração: 2h 56m

Roteiro: Matt Reeves, Peter Craig

Fotografia: Greig Fraser

Trilha sonora: Michael Giacchino

Ano: 2022