Pânico

Pânico

20 de janeiro de 2022 0 Por Filipe R. Bichoff

Apesar de seus altos e baixos, não há como negar que a franquia Pânico é dona de um sucesso considerável. Tendo seu ápice nos anos 2000, era claro o desgaste que a franquia vinha demonstrando no decorrer dos anos, contando com um último episódio mediano era pouco provável que teríamos uma sequência, mas 11 anos depois e cá estamos.

Sendo o primeiro longa a não contar com a direção de Wes Craven, criador desse universo, era claro que teríamos mudanças drásticas em como tudo seria contado, porém a dúvida era se os novos diretores teriam a capacidade de ao menos não desrespeitar todo um legado deixado por Craven, e isso já fica nítido nos primeiros minutos da produção.

A direção da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, trazem ao longa algo que não era visto desde o original, uma cena inicial realmente competente fazendo jus ao gênero. Com uma protagonista menos superficial e utilizando o telefone sem fio, mais como homenagem, e aplicativos de celular, o longa consegue situar a trama nos dias atuais, para assim construir o suspense gradativamente e por fim chocar com a primeira e incrível aparição do Ghostface. Referenciando o original, o longa usa de elementos clássicos do terror nos brindando com um bom e velho slasher, subgênero que teve seu auge nos anos 2000 e que hoje tem sido mal utilizado através de longas medíocres, enfim é tratado como deve.

A fotografia colabora com a aura de suspense em torno do assassino, colocando o mesmo sempre sob sombras e pouca luz, seguidos por planos que alternam entre inferiores, que engrandecem o assassino, e planos fechados que somados à violência impressa em seus golpes trazem para o mesmo uma frieza e brutalidade que há muito não víamos na franquia, foi algo que corroborou para enfim trazer de volta o medo perante a figura do Ghostface, algo que foi se perdendo graças a própria metalinguagem presente em todos os filmes.

E isso soma ao longa como um todo, tornando o mesmo muito próximo, ou tão assustador quanto, o original, graças a letalidade do assassino o clima de suspense se torna constante, deixando a narrativa tensa e o espectador apreensivo o tempo todo, pois sabia que quando o Ghostface estava em tela seguido de uma trilha sonora imponente, o perigo era real, seja para nos novos ou antigos personagens.

E se temos uma trama funcional isso acontece por dois fatores importantes, personagens carismáticos e uma trama bem desenvolvida, e no caso a direção acerta em ambas. O elenco clássico dispensa comentários, já os jovens, esqueçam os personagens genéricos e descartáveis de antes, aqui cada um faz bom uso do seu tempo de tela, com destaque óbvio para as irmãs, Tara (Jenna Ortega) e Sam (Melissa Barrera), por serem as protagonistas, mas todos, não só cumprem seu papel como provam serem capazes de encarar uma sequência.

A trama é coerente, mostrando que um bom roteiro precisa ser pensado e bem desenvolvido, não uma sucessão de ideias que a direção tenha que fazer o impossível para dar o mínimo de sentido, e apesar de seguir a mesma fórmula dos clássicos, onde o assassino está na nossa cara o tempo todo, a direção subverte isso, nos entregando o assassino de bandeja apesar de não deixar tão óbvio, para depois brincar com o espectador colocando em cheque inúmeros personagens, tornando a narrativa dinâmica e atraente.

Algo presente na essência da franquia e que se perde após o segundo filme, é a crítica social ao próprio gênero ou indústria, e que agora é resgatada de maneira fluida evidenciando os fãs, em especial os fanáticos, que se acham no papel de julgar, condenando uma obra que não seja algo próximo do que sua mente problemática tenha estabelecido, criando motins na internet afim de conseguir o que querem, algo assustadoramente comum em especial no subgênero de heróis, onde o fã service importa mais que um roteiro bem desenvolvido.

Sem medo de ser galhofa, apesar de ser o menos entre os demais, o longa segue fiel à sua proposta sendo o mais realista da franquia, e ainda sim o longa não deixa de homenagear o terror clássico, fazendo isso em um momento que marca um acontecimento importante na trama, fazendo referência às atitudes estúpidas dos personagens em momentos inoportunos, e faz isso sem perder o peso dramático da cena, pois naquele universo tal atitude não soa como uma falha no roteiro ou mera conveniência e sim como alusão ao gênero.

Por fim, o longa faz jus à franquia, trazendo de volta algo visto apenas no original, e que os sucessores por tentarem ser mirabolantes demais se perderam pelo caminho, o suspense predominante durante a trama, fazendo sim referências, porém nunca esquecendo que se trata de um filme de terror, trazendo de volta também o respeito e o medo para a figura de um Ghostface mais violento e letal do que nunca, mas sempre mantendo os pés no chão, longe de torná-lo super, que alívio.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Pânico

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0

Direção: Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett

Elenco: Neve Campbell, Courteney Cox, David Arquette, Jenna Ortega, Melissa Barrera, Dylan Minnette

Duração: 2h

Roteiro: James Vanderbilt, Guy Busick

Fotografia: Brett Jutkiewicz

Trilha sonora: Brian Tyler

Ano: 2022