Ataque dos Cães

Ataque dos Cães

16 de janeiro de 2022 0 Por Filipe R. Bichoff

A época do faroeste famosa pela virilidade masculina, marca um período onde os homens se orgulhavam por serem rudes, desrespeitosos, e o preconceito era algo frequente em suas rodas de conversa, composta apenas por homens heteros, mas esse mundo criado por eles também tinha seus segredos e histórias, da qual poucos sabiam até que ponto era verdade.

No longa acompanhamos uma família de fazendeiros bem sucedidos, liderados pelo impiedoso Phill (Benedict Cumberbatch), que enxerga no casamento do irmão uma afronta, pois acredita que sua esposa Rose (Kirsten Dunst), é uma golpista, porém o que realmente incomoda Phill é ver o irmão se tornar independente e construir uma família.

Mas o maior alvo de Phill é Peter (Kodi Smit-McPhee), onde apenas a presença do garoto o incomoda, deixando claro os traços homofóbicos de Phill e o levando a perseguir o garoto o tempo todo. Phill é claramente o tipo de pessoa que não se importa com ninguém a não ser consigo mesmo, e faz questão de importunar todos a sua volta, a trilha sonora de suspense que acompanha o personagem traz ao mesmo a aura que o longa busca, causar tensão apenas através da presença do personagem em tela.

A direção de Jane Campion é minuciosa, e através de planos fechados emprega grandeza ao personagem, o colocando acima de todos, a fotografia colabora ao apresentar o personagem constantemente através de pouca luz, enfatizando o lado sombrio e oculto de Phill, e causando incomodo em quem o procura para uma conversa.

Mas tudo isso não seria possível, ou pelo menos não teríamos tal resultado, se não fosse o trabalho incrível de Cumberbatch, o ator realmente se entrega ao personagem, e sua fala mansa passa longe de ser gentil, tendo efeito contrário graças ao olhar odioso que o personagem lança sobre todos, com isso o ator entrega um personagem extremamente complexo, repleto de traumas do passado que são mascarados por sua personalidade hostil. E mesmo o roteiro dando indícios claros sobre as camadas do personagem, a interpretação de Cumberbatch consegue causar dúvidas no espectador, ficando claro apenas no terceiro ato.

O roteiro é extremamente sutil em sua proposta, com isso o trabalho dos atores foi essencial, nisso a direção aproveita para impressionar através do visual, com planos abertos exibe a beleza daquele lugar, mas nunca deixando de enfatizar as montanhas tão idolatradas por Phill, por guardar seu maior segredo.

Segredo esse que mais tarde vem a se tornar seu calcanhar de Aquiles, quando o “indefeso” Peter o descobre, algo que o longa já vinha dando pistas desde o início, e então Peter vê nisso sua oportunidade de se aproximar. E é através da relação entre os dois personagens que o longa surpreende, com Phill da maneira grosseira e Peter de modo sutil, agindo com inteligência marcando o principal plot do longa, o outro fica por responsabilidade de Phill, se fazendo óbvio no desenvolvimento da trama.

O longa trata de maneira genial, dois tipos de sofrimento, baseados na mesma origem, Peter por escolher não esconder sua orientação sexual em uma época dominada pelo preconceito é alvo por onde passa, sendo forçado a viver recluso na maior parte do tempo. Phill expõe algo que perdura até hoje, alguém que sofre em segredo porém opta por atacar seus semelhantes, acima de tudo por medo, medo de se aceitar, e do que realmente sente.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Ataque dos Cães

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️

Direção: Jane Campion

Elenco: Benedict Cumberbatch, Kirsten Dunst, Jesse Plemons, Thomasin McKenzie, Kodi Smit-McPhee, Frances Conroy, Keith Carradine, Peter Carroll, Adam Beach

Duração: 2h 8m

Roteiro: Jane Campion

Fotografia: Ari Wegner

Trilha sonora: Jonny Greenwood

Ano: 2021