King Richard: Criando Campeãs

King Richard: Criando Campeãs

9 de janeiro de 2022 0 Por Filipe R. Bichoff

Indo na contramão da maioria dos longas que contam histórias reais de casos de sucesso, superação ou algo do gênero, King Richard tem sua trama baseada no precursor da história de sucesso, o pai Richard (Will Smith), que tem como principal objetivo impedir que as cinco filhas, em especial Serena (Demi Singleton), e Venus Williams (Saniyya Sidney), sofram o que ele sofreu e possam ter um futuro brilhante.

A trama segue o caminho convencional, passando por parte da infância das garotas, um período que marca o momento de transição na vidas das meninas, e através de uma premissa atraente e dinâmica a direção situa o espectador sobre como tem sido, desde o nascimento, a vida das Williams.

O roteiro é básico, e pontua alguns momentos do passado de Richard através de bons diálogos, sem a necessidade de interromper a trama com flashbacks a todo momento, com isso o longa não perde tempo e usa tudo que tem para desenvolver a trama e apresentar os personagens.

A direção equilibra de maneira eficiente os momentos dramáticos com os de alívio cômico, onde as piadas se encaixam de maneira coesa à trama, mérito também do talento e carisma dos personagens que são vividos por um elenco afiado.

Elenco aliás muito competente, porém Will Smith se destaca com folga, sua entrega é única. Dando vida à um Richard Williams com maestria, Smith se destaca pela semelhança que vai do físico ao modo de falar, fazendo do personagem um dos melhores da carreira do ator. Os momentos mais cômicos ficam por conta de Rick Macci, através de mais um trabalho sensacional de Jon Bernthal, mostrando sua versatilidade e facilidade em transitar sobre os mais variados gêneros. As jovens coadjuvantes que dão vida às Williams entregam o suficiente.

A trama pontua alguns momentos de como foi para Richard criar e desenvolver o talento das filhas em meio ao preconceito da época, como quando um entrevistador branco tenta conduzir uma entrevista capciosa com Serena, que em sua inocência não percebe, porém o pai atento interfere, provando que sua insistência em se fazer presente em todos os momentos na vida das filhas não era em vão, e sim cuidado, cuidado esse que vai além da carreira no esporte, Richard faz questão de garantir um ótimo estudo para as filhas sabendo da importância do mesmo.

O longa conta com alguns momentos em que a direção falha, em especial nos jogos, o diretor tenta, porém não consegue entregar a grandiosidade que procura nas cenas dentro das quadras e nos treinos, com posicionamentos de câmera que não valorizam a sequência, parecendo por vezes perdido. Com alguns cortes abruptos, que culminam em uma transição pouco eficiente, o diretor confunde o espectador e faz com que ambas as cenas percam o peso dramático.

A trilha sonora até ajuda, invoca a grandeza necessário para a sequência porém ao final parece não encaixar, interrompendo algumas das sequências de ação do longa, e a direção até tenta compensar isso decorrer da sequência porém não consegue. O que me leva à crer que talvez tais atitudes tenham sido uma escolha por parte da direção, enfatizando o que o pai sempre ensinou às filhas, “não debochar ou comemorar em excesso”, sempre mantendo o respeito pelo adversário, mas duvido que tenha sido isso.

O longa conta também com algumas decisões questionáveis de roteiro, como levar um personagem sem explicação alguma no meio do jantar à uma quadra para ser agredido por uma gangue local, com o intuito de trazer um peso dramático que não tem sentido narrativo, apenas estende a duração do longa. E se a intenção da direção era fazer com que o personagem ganhasse o respeito dos “donos do bairro”, algo semelhante ao primeiro encontro dos personagens já era suficiente.

Esses momentos marcam alguns deslizes do longa, porém que não interferem muito no desenvolvimento da trama, que mostra como pais pretos lutaram o quanto puderam para dar as filhas o melhor futuro possível, que mesmo em meio ao preconceito elas nunca deveriam esquecer o seu valor, e o quanto lutaram para estar no topo, sem nunca perder o respeito pelo próximo, exigindo o mesmo para sí, e através disso o longa se basta e comove.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: King Richard: Criando Campeãs

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️

Direção: Reinaldo Marcus Green

Elenco: Will Smith, Saniyya Sidney, Demi Singleton

Duração: 2h 24m

Roteiro: Zach Baylin

Fotografia: Robert Elswit

Trilha sonora: Kris Bowers

Ano: 2021