Imperdoável

Imperdoável

6 de janeiro de 2022 0 Por Filipe R. Bichoff

Quando um diretor opta por trabalhar com dois gêneros distintos em sua obra, deve estar ciente da linha tênue entre ambos, pois se pender demais para um dos lados o outro acaba superficial, e tratar de temas como traumas familiares e preconceito, acredito que inviabilizam a opção pelo suspense, quando temas assim tem muito mais espaço no drama.

O longa tem uma premissa atraente e calcada no suspense, dando indícios de uma trama voltada ao gênero, e por se tratar de eventos ocorridos no passado onde em contraplano vemos as consequências sofridas pela protagonista, isso automaticamente gera o interesse do público, mesmo a sequência não sendo finalizada.

A respeito da protagonista, Ruth Slater (Sandra Bullock), a atriz tem a entrega necessária e suficiente para sua personagem, auxiliada por uma maquiagem eficiente, o trabalho corporal da atriz diz muito a respeito da personagem, constantemente introspectiva e evitando o mundo ao seu redor, sabendo de como seria vista pela maioria das pessoas.

O roteiro raso, faz com que a direção opte por flashbacks constantes e a certo ponto repetitivos, para assim preencher uma trama que se arrasta em determinados momentos, onde a direção se alonga tanto em relação aos flashbacks que em determinado momento cansa, perdendo fôlego em parte importante da trama, voltando a causar algum efeito apenas quando o plot é revelado.

A relação entre Bullock e Bernthal são um dos pontos positivos do longa, graças ao óbvio talento de ambos, refletindo a relação entre duas pessoas que se entendem devido à acontecimentos do passado e a necessidade humana por contato, algo comum mas que só é valorizado quando se perde.

O arco dramático da personagem é bem desenvolvido, colaborando em função da trama, onde a direção explora o preconceito sofrido por ex presidiários, onde são julgados por uma sociedade que pouco sabe a seu respeito, mas condenam com veemência atos que eles mesmos atrelam ao indivíduo, tirando do mesmo qualquer chance de redenção.

Os pais adotivos de Kath (Aisling Franciosi), tem como única função representar, de maneira superficial, os pais ausentes, que preferem ignorar os traumas da filha em benefício próprio, pois se a mesma se recuperasse provavelmente iria atrás de respostas, e o sofrimento e infelicidade da garota não pode abalar a felicidade dos pais em tê-la por perto.

E como citei anteriormente, sobre trabalhar sob dois gêneros, o longa é falho quando abre espaço para o suspense, em momento algum vemos algo funcional em relação ao gênero, onde o único sentimento que o longa consegue extrair do espectador é uma tensão leve, como no caso da sequência final, a direção tenta subverter a expectativa porém a cena é rasa, e fica fácil antecipar a atitude da personagem.

E quando a direção volta a trilhar o caminho do drama consegue causar comoção, como no reencontro das irmãs, refletindo a ligação íntima e poderosa entre ambas, onde mesmo com tantos empecilhos o amor entre elas faz com que se unam novamente.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Imperdoável

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️

Direção: Nora Fingscheidt

Elenco: Sandra Bullock, Vincent D’Onofrio, Jon Bernthal, Viola Davis

Duração: 1h 52m

Roteiro: Peter Craig, Hillary Seitz, Courtenay Miles

Fotografia: Guillermo Navarro

Trilha sonora: Hans Zimmer, David Fleming

Ano: 2021