Marighella (2021)

Marighella (2021)

15 de dezembro de 2021 0 Por Filipe R. Bichoff

O longa Marighella enfrentou assim como seu protagonista, inúmeros problemas, no caso do longa para ser lançado, enfrentando uma censura óbvia diante de um governo antidemocrático, anti-cultura e com um viés ditatorial, fazendo com que o longa por ironia do destino chegue aos cinemas em um momento extremamente oportuno, sendo um grito em meio à multidão, um alerta.

O longa causa no espectador um mix de sentimentos, através de um roteiro corajoso e poderoso, levando quem assiste da raiva para tristeza, e da tristeza ao choro, com um choque causado através de cenas sim violentas, porém que mostram apenas uma pequena parte, do sofrimento enfrentado por aqueles que lutavam a favor da democracia.

Apesar de se tratar de um drama histórico, não há como negar as lutas enfrentadas por Marighella e seus companheiros, através disso a direção dá ao longa um dinamismo que torna a narrativa ágil, fazendo as duas horas e meia de filme passarem despercebidas.

A direção de Wagner Moura é certeira, com a câmera sempre próxima dos personagens Wagner cria uma intimidade entre espectador e personagem, em paralelo a isso emprega grandeza em meio à discursos de encorajamento, e um suspense em torno de cada situação de risco, mesmo o espectador sabendo o triste fim do personagem. Referencia também os inúmeros desaparecidos e vítimas de tortura de maneira sutil, deixando o desenrolar para o imaginário do espectador, sem a necessidade de expor o destino dos mesmos, se resumindo apenas à palavra “Leva!”, através do repulsivo personagem de Bruno Gagliasso.

Seu Jorge aqui deixa claro, que se ainda haviam dúvidas sobre seu talento, foram todas sanadas. O ator entrega um personagem profundo, com um olhar amoroso para com seus aliados, porém quando preciso o mesmo olhar passa a força necessária para motivar o grupo.

Outro detalhe notável durante o longa é a maneira como Seu Jorge dialoga através do personagem, sempre com entonação e uma gramática exemplar, destoando dos demais personagens e exaltando de maneira incrível as qualidades de Marighella, um homem culto, escritor e extremamente inteligente, sendo essa sua maior arma contra a ditadura, algo além do alcance de seus inimigos, e que eles tentam constantemente limitar o acesso da população.

Marighella por incrível que pareça, não será um longa que agradará à todos, não por seus aspectos técnicos ou narrativos, pois a qualidade dos mesmos são indiscutíveis, mas pela alusão que faz ao atual momento do país, onde um aspirante à ditador em uma tentativa fajuta de colocar novamente militares no poder, ilude um povo pobre de conhecimento a ponto de apoiarem tamanho absurdo, tentando apagar um luta legítima de um povo livre.

E fazendo isso através de golpes baixos com os que Marighella sempre lutou contra, calando a imprensa, impendido o acesso à informação, e derrubando a cultura, e há quem diga que o que presenciamos não é uma incitação à ditadura, talvez isso seja, em partes uma vitória por parte deles, levando o povo a ignorância e alienação. Porém o que vemos através do longa, e da história, é que facistas sempre irão cair, e por mais que tentem calar uma voz, seja através de uma execução arquitetada ou impedindo o acesso à informação, nunca irão calar um ideal.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: Marighella

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️

Direção: Wagner Moura

Elenco: Seu Jorge; Adriana Esteves; Bruno Gagliasso; Humberto Carrão; Luiz Carlos Vasconcelos; Adanilo

Duração: 2h 35m

Roteiro: Wagner Moura, Felipe Braga

Fotografia: Adrian Teijido

Trilha sonora: Samuel Ferrari

Ano: 2021