O Assassino

O Assassino

20 de novembro de 2023 0 Por Filipe R. Bichoff

Você pode ser bom em algo, muito bom mesmo, porém sempre estará sujeito à erros pois por melhor que seja realizando determinada função, uma coisa é certa, ninguém é perfeito. E David Fincher escolhe mostrar isso sob a ótica de um assassino de aluguel, dos mais meticulosos e detalhistas possível, algo que até então já vimos algumas vezes, porém Fincher nos dá outra perspectiva e usa do hiper foco para montar a narrativa de seu protagonista. 

Para isso ele estabelece sua base narrativa através de uma longa e monótona premissa, vale destacar que isso no caso não é um demérito, pois o diretor faz isso de forma proposital, não só para estabelecer ritmo mas também para trazer veracidade à sua trama, que tenta ao máximo não colocar seu assassino como um anti-herói ou alguém tão imbatível quanto, seu personagem é acima de tudo, humano.  

Tendo estabelecido a base e apresentado o protagonista ao público, juntamente com suas habilidades, habilidades essas que o diretor tenta manter o mais verosímil possível, algo pouco comum em filmes do gênero, não que isso seja algo ruim, o longa pode abraçar o gênero como um todo e usar de seus artifícios mais à quem da realidade e assim como John Wick o fazer com maestria. Mas no caso de O Assassino a proposta de Fincher é algo mais intimo, um passeio pela mente do personagem. 

E através disso notamos que, mesmo o protagonista sendo focado e determinado o diretor o mantém sempre sujeito ao erro, o que de certa forma faz como que o mesmo consiga através disso criar e  manter suspense, fazendo com que essa vulnerabilidade humanize o protagonista mesmo que tal sequer tenha um nome, apenas disfarces.  

Outro detalhe interessante que o diretor usa para arquitetar o hiper foco do protagonista é a mixagem de som, algo que notamos como em um plano aberto tudo fica extremamente barulhento, barulhos esses que são usados artifícios da diegese, incluindo todos os sons ao redor do personagem, já no plano mais próximo há um silencio abafado que representa seu foco absoluto, somado a música e as palavras que repete a si mesmo quase como um mantra.  

E essa tensão que Finsher é mestre em desenvolver faz com que o público espelhe o personagem referente ao hiper foco, pois o risco é iminente e a conclusão sempre abrupta e violenta surpreende o público, que o tempo todo fica em duvida sobre o desfecho das sequencias de ação. Sequencias essas que elevam a tensão ao extremo, não só pela violência impressa mas o desespero estampado no rosto de Fassbender, expondo parcialmente o medo por parte do personagem diante de uma situação adversa e como ele mesmo diz, até então nova.

Por falar em Fassbender, apesar das pouquíssimas falas o ator desempenha um ótimo papel, seu semblante frio e por vezes oscilante, cria ao mesmo tempo uma aura de superioridade e vulnerabilidade, tornando os fatos que presenciamos ainda mais criveis, podemos dizer que certa forma o ator faz muito com pouco.

O assassino é cru, em momento algum tenta humanizar seu protagonista o mantendo sempre a mercê de suas funções, tanto que os demais personagens pouco ou quase nada interferem na trama, o diretor ainda brinca com o espectador, em determinados momentos nos leva a pensar que irá seguir o caminho obvio, da empatia, algo que não condiz com um assassino, algo que o próprio repete para si o tempo todo, um detalhe que nos leva a curtir a jornada mas sem se apegar a nenhum personagem.

Crítica por: Filipe R. Bichoff

Título: O Assassino

Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️ / 8,0

Direção: David Fincher

Elenco: Michael Fassbender, Tilda Swinton, Charles Parnell, Arliss Howard, Kerry O’Malley, Sophie Charlotte, Gabriel Polanco, Sala Baker

Duração: 1h 58m

Roteiro: Andrew Kevin Walker

Fotografia: Erik Messerschmidt

Trilha sonora: Atticus Ross, Trent Reznor

Ano: 2023